segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ode ao crentês



Eu insulto o crentês! O crentês-níquel,
o crentês-crentês!
A digestão malfeita da igreja!
O crentês-curva! O crentês-nádegas!
O crentês que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um espiritual pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias eclesiais!
Os apóstolos lampiões! os bispos Joões! os líderes
zurros!
que vivem dentro dos “templos” aos pulos;
e exigem sangues de alguns mil-fiéis fracos
para dizerem que os crentes falam o angeliquês
e tocam os “céus” com seus louvores!

Eu insulto o crentês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das revelações!
Fora os que determinam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva de bênçãos
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades eclesiais!
Morte ao crentês-mensal!
ao crentês-campanha! ao crentês uno-mille!
Show da fé! Morte viva aos voluntários!
– Ai, deus, o que tens pra mim nos teus planos?
– Uma casa na praia… – Um milhão e meio!!!!
E os sem fé morrerão de fome!”

Come! Come-te a ti mesmo, oh religiosidade pasma!
Oh! Purée de batatas espirituais!
Oh! Cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ira aos regulamentos não bíblicos!
Ira aos jejuns musculares! Morte à falsa reverência!
Ira ao bençãocentrismo! Ira aos im-pecáveis!
Ira aos desfalecimentos sem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices eclesiais!
De mãos pro alto! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira unção! Vigia!
Todos para a central-gospel da minha ira inebriante.
Ira e repúdio! Ira e raiva! Ira e mais ira!

Morte ao crentês de joelhos,
fedendo religião e que não respeita a palavra de Deus!
Ira arco-íris! Ira fecunda! Ira cíclica!
Ira fundamentada, sem chavões!
Fora! Fu! Fora o crentês!…
Zé Libério


Medio tutissimus ibis.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Est modus in rebus


Perdoem-me o desgosto! Está insuportável!
Perdoem-me, irmãos, eu confesso a tão aguardada confissão de minha boca. Sim, eu confesso que não posso mais deixar de declarar a minha alma. Para mim é questão de vida ou morte. Perdoem-me, irmãos, mas eu preciso confessar.
Sim, eu confesso…
Está insuportável. Se eu não abrir a minha boca, minha alma explodirá em mim.
É insuportável ligar a televisão e ver o culto que se faz ao Monte Sinai, que gera para escravidão. Os Gálatas são o nosso jardim da infância. Nós nos tornamos PHDs do retrocesso à Lei e aos sacrifícios. Pisa-se sobre a Cruz de Cristo em nome de Jesus. Insuportável! Seja anátema!
É insuportável ver o culto à fé na fé, e também assistir descarados convites feitos em nome de Deus para que se façam novos sacrifícios, visto que o de Jesus não foi suficiente, e Deus só atende se alguém fizer voto de frequência ao templo, e de dinheiro aos sacerdotes do engano e da ganância. Insuportável!
É insuportável assistir ao silêncio de todos os dantes protestantes – e que até hoje ofendem os cultos afro-ameríndios por seus sacrifícios, sendo que estes ainda têm razão para sacrificar, visto que não confessam e não oram em nome de Jesus – ante o estelionato feito em e do nome de Jesus, quando se convida o povo para sacrificar a Deus, tornando o sacrifício de Jesus algo menor e dispensável. Insuportável!
É insuportável ver o povo sendo levado para debaixo do jugo da Lei quando se ressuscitam as maldições todas do Velho Testamento, e que morreram na Cruz, quando Jesus se fez maldição em nosso lugar. Insuportável!
É insuportável ver que para a maioria dos cristãos a Lei não morreu em Cristo, conforme a Palavra, visto que mantêm-na vigente como “mandamento de vida”, mas que apenas existe para gerar culpa e morte, também conforme a Escritura. Insuportável!
É insuportável ver e ouvir pastores tratando a Graça de Deus como se fosse uma parte da Revelação, como mais uma doutrina, sem discernir que não há nada, muito menos qualquer Revelação, se não houver sempre, antes, durante, depois, transcendentemente e imanentemente, Graça e apenas Graça. Misericórdia!
É insuportável ver a Bíblia sendo ensinada por cegos e que guiam outros cegos, visto que nem mesmo passaram da Bíblia como livro santo, desconhecendo a Revelação da Palavra da Graça do Evangelho de Deus. Insuportável tristeza!
É insuportável ver que os cristãos “acreditam em Deus”, sem saber que nada fazem mais que os demônios quando assim professam, posto que não estamos nesta vida para reconhecer que Deus existe, mas para amá-Lo e conhecê-Lo. Insuportável desperdício!
É insuportável enxergar que a mensagem do Evangelho foi transformada em guia religioso, no manual da verdade dos cristãos, mais uma doutrina da Terra. Insuportável humilhação!
É insuportável ver os que pensam que possuem a doutrina certa jamais terem a coragem de tentar vivê-la como mergulho existencial de plena confiança, mas tão somente como guia de bons costumes e de elevados padrões morais. Insuportável religiosidade!
É insuportável ver gente tentando “estudar Deus”, e a ensinar aos outros a “anatomia do divino”, ou a buscar analisar Deus como parte de um processo, no qual Deus está aprendendo junto conosco, não sabendo tais mestres que são apenas fabricantes de ídolos psicológicos. Insuportável sutileza!
É insuportável ver que há muitos que sabem, mas que nada dizem; vêem, mas nada demonstram; discernem, mas em nada confrontam; conhecem, mas tratam como se nada tivesse consequências… Insuportável…
É insuportável ver que se prega o método de crescimento de igreja, não a Palavra; que se convida para a igreja, não mais para Jesus; e que a cada cinco anos toda a moda da igreja muda, conforme o que chamam de “novo mover”. Insuportável vazio!
É insuportável ouvir pastores dizendo que o que você diz é verdade, mas que eles não têm coragem de botar a cara para apanhar, mesmo que seja pela verdade e pela justiça do evangelho do reino de Deus. Insuportável dissimulação!
É insuportável ver um monte de homens e mulheres velhos e adultos brincando com o nome de Deus, posando de pastores, pastoras, bispos, bispas, apóstolos e apóstolas, sendo que eles mesmos não se enxergam, e não percebem o espetáculo patético no qual se tornaram, e o ridículo de suas aspirações messiânicas estereotipadas e vazias do Espírito. Insuportável jactância e loucura!
É insuportável ver Jesus sendo tratado como “poder maior” e não como único poder verdadeiro. Insuportável idolatria!
É insuportável ver o diabo ser glorificado pela frequência com a qual se menciona o seu nome nos cultos, sendo que Paulo dele falou menos de uma dúzia de vezes em todas as suas cartas, e as alusões que Jesus fez a ele foram mínimas. No entanto, entre nós o diabo está entronizado como o inimigo de Cristo e o Senhor das Culpas e Medos. E, assim, pela frequência com a qual ele é mencionado, ele é crido; e seu poder cresce na alma dos humanos, a maioria dos quais sabe apenas do Medo da Lei, e nada acerca da Total Libertação que temos da Lei e do diabo na Graça de Jesus, que o despojou na Cruz. Insuportável culto!
É insuportável ver seres humanos sendo jogados fora do lugar de culto por causa de comida, bebida, cigarro, roupa, sexualidade, ou catástrofes de existência. Isto enquanto se alimenta o povo com maldade, inveja, mentira, politicagem, facções, e maldições. Insuportável é coar o mosquito e engolir o camelo!
É chegada a hora do juízo sobre a Casa de Deus!
De Deus não se zomba, pois aquilo que o homem semear, isto também ceifará. A eternidade está às portas. Então todos saberão que não minto, mas falo a verdade, conforme a Palavra do Evangelho de Jesus.
Com tremor e temor, porém certo da verdade de Jesus,
Caio Fábio D'Araújo Filho

Medio tutissimus ibis. 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O seu Santo nome

Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.
Carlos Drummond de Andrade

Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A praga PC

A praga PC [policamente correto] detesta a culpa.
Uma das coisas mais comuns nos politicamente corretos é negar a culpa dizendo que é a sociedade que “impõe” a culpa como forma de controle. A famosa culpa judaico-cristã.
Antes de tudo, a ignorância típica do politicamente correto salta aos olhos porque a culpa não é um fenômeno ocidental, e mesmo o darwinismo aponta a culpa (vergonha e mal-estar moral) como um dos centros afetivos da vida moral do bando de caçadores-coletores, célula máter ancestral de nossa vida social.
Nada é mais profundo do que uma pessoa com os olhos vidrados de culpa. Pessoas sem culpa são monstros morais. O discurso segundo o qual a culpa é uma forma pensada de controle dos mais fortes sobre os mais fracos (em que pese o fato de que a culpa pode mesmo ser manipulada, como tudo mais que é verdadeiro na vida humana) é falso e indica antes de tudo uma mentalidade infantil, na medida em que se sentir culpado é um dos modos mais típicos da consciência moral.
Em assuntos como esses, melhor do que a argumentação pura e simples é a experiência. Você caro leitor, já fez mal a alguém? Alguém que não merecia? Se a resposta for não, você é um mentiroso.
Luiz Felipe Pondé


Medio tutissimus ibis.



sábado, 17 de novembro de 2012

Inépcia



“Ser gênio significa, em primeiro lugar,
a transcendente capacidade de sofrer.”
Thomas Carlyle


Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Avivamento Extravagante


1. Ficar sempre atento à programação midiática gospel dos meios de comunicação, a fim de não faltar aos shows e congressos de avivamentos “inspirituais” programados em seu Estado. Se possível frequente essas seções diariamente. Quanto ao estudo da Palavra, basta apenas aquela horinha na escola bíblica dominical.

2. Não quebre a cabeça com estudos bíblicos demasiados longos, principalmente àqueles que exigem uma infinidade de obras para consultar, como livros de História, de Geografia, de Filosofia Cristã, de Teologia e outras “gias”, além de enciclopédias e dicionários. Nas livrarias gospel você já encontra tudo mastigadinho para o seu crescimento espiritual, sem necessidade de forçar a mente. Lá você pode adquirir pacotes de “pague 3 e leve 4”.

3. Se tiver que decidir entre um “show de avivamento” e uma reunião de estudo bíblico, não vacile: escolha o primeiro. Afinal, a nossa vida aqui é tão curta, e esse negócio de estudo pode prejudicar a saúde mental, principalmente daqueles que já ultrapassaram os 45 anos. Veja e compare: aqueles que saem dos retetés de avivamento apresentam-se alegres e de faces radiantes, enquanto aqueles que saem do estudo das Escrituras Sagradas apresentam-se cabisbaixos, apáticos e com cenhos franzidos, como se tivessem acabado de assistir a uma sessão de tortura.

4. Nos grandes congressos e festas gospel use ao máximo, o som esfuziante das bandas de forró, axé e frevo. Não deixe a multidão “paradona”. Incentive as palmas, os gritos dos bordões evangeliquês, os pula-pulas, os cai-cai etc.

5. Se você é o preletor oficial, nunca deixe de suar a camisa, e se possível o paletó. Nunca deixe de imprimir aquele vozeirão dramático e tonitruante. Se a platéia se mostrar fria, exerça os seus dons teatrais, como pulos, cambalhotas, sapateados e lançamentos de Bíblias ou lenços, que você tão bem ensaiou.

6. Não deixe de comprar em nossas livrarias, os famosos livros de marketing sobre pregações para multidões, como os recentemente publicados: Como Inflamar as Multidões – de Flamarion Nazareno; e o best-seller: Cem Conselhos para Incendiar as Igrejas – de Pinto Sette e Caio Botafogo.

7. Os organizadores dos shows de avivamento gospel, não podem em hipótese alguma, reservar muito tempo para a exposição da Palavra de Deus. Os sermões longos causam enfado e deixam as multidões sonolentas.

8. É patente e notório que, se você quiser ganhar um maior número de almas para seu rebanho, deverá pregar mais sobre Apocalipse, enfatizando com cores fortes, o terror do fim do mundo e do inferno. As pessoas temem muito o castigo final, e consequentemente, vão procurar ligeirinho, uma igreja para se congregar.

9. Não esqueça o que preconiza o marketing da “hora do apelo”. O mesmo deve ser executado com muito esmero. Intensa e solene dramatização, ao som de “corinhos” e de uma suave e crescente pressão dos auxiliares junto ao assustado pecador, para que “livremente”, ele se dirija ao púlpito, a fim de ser contabilizado para a honra e glória do pregador.

10. Após o término dos shows, todos deverão procurar as nossas barracas de CDs, vídeos, camisetas, revistas, sandálias, toalhas, pratos, chaveiros, bolsas e bonés com versículos bíblicos e emblemas judaico-cristãos, a fim de adquirir um ou mais objetos para se guardar como recordação.
Observação: levem sempre algum dinheiro na carteira, pois não aceitamos cheques ou cartões de crédito.
Levi B. Santos


Medio tutissimus ibis.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sem movimentação

Curto o Jota Quest (não nego!): acho uma banda bacana com bons músicos e que fazem um som legal.
Faz tempo que acompanho a trajetória dos caras e, sempre me deparo com um rijo clamor em algumas de suas composições.
Apenas a título de exemplo e, guardadas as devidas proporções: pra mim, Dias Melhores é um rogo de avivamento; O Sol é a certeza de que alguns demônios não mais falarão ou farão alarido; Beijos no Escuro talvez seja um artifício romântico e/ou representativo de que, o melhor caminho é o Caminho...
Ao adquirir o recente trabalho, Folia e Caos, deparei-me com Tudo Está Parado, que, assim que sorvida, se tornou impossível de não estabelecer uma correspondência com a carta de Paulo aos Romanos, 8.19-22.



Ao ouvir a canção me deparo, outrossim, com a asseveração de Dostoiévski: “Existe no homem um vazio do tamanho de Deus.”
Suponho que esse vazio esteja gritando para ser preenchido; presumo que a criação não suporta mais esperar; desconfio que as pedras estejam clamando: clamor esse que se fez/faz no escuro do quartote remete algo?
Nesse ínterim, sei que tudo está parado: esperando uma Palavra! Tudo está parado: esperando uma Palavra, esperando por você!
Vambora agir? Vambora lá? Vambora que tem gente esperando...

NEle,
Rovan Berto
Medio tutissimus ibis.

Quotiliquê

“De nada adianta um corpo são e uma alma morta.”
Marcello Matias


Medio tutissimus ibis.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Nós

“Funciona assim – para você que ainda não entendeu. Deus está mais próximo dos pecadores que dos santos. Ele, nos céus, tem um fio que o conecta a cada um dos seres humanos. Quando você erra, esse fio é cortado, e Deus dá um nó. Quanto mais pecados, mais nós têm a corda, mais curta ela fica, e a pessoa se aproxima cada vez mais de Sua misericórdia.”
Jota Mossadihj

____________________
Vide Romanos 6.1-2.
Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Arrimo

“É preciso sempre recomeçar, nunca se chegará a uma sociedade totalmente democrática. A injustiça sempre encontra um jeito de justificar o injustificável, a violência interrompe o caminho da paz, a corrupção faz seu ninho no coração dos que deveriam lutar para eliminá-la, as classes sociais continuam a dividir a sociedade. Mas a esperança sempre unirá os desprendidos, os conscientes, os idealistas da utopia de transformar o mundo e as pessoas”.

Ignácio Agero Hernandez


Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Variegado

“Ver diferente é a condição necessária para continuar a ver.”
Gaston Bachelard


Medio tutissimus ibis.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Post hoc ergo propter hoc

Destino ou acaso? Sorte ou sincronia? Aleatoriedade ou simultaneidade?
Gosto de elucubrar como Einstein, que disse, coincidência é a maneira que Deus encontrou para permanecer no anonimato; afinal, quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? Todas as coisas vêm única e exclusivamente dele, por ele e para ele...


Medio tutissimus ibis.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

“Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho ímpar.”
Carlos Drummond de Andrade


Medio tutissimus ibis.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Apátheia


“A ciência poderá ter encontrado a
cura para a maioria dos males, mas não
achou ainda remédio para o pior de todos:
a apatia dos seres humanos.”
Helen Keller


Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Sujeição

“Liberdade significa responsabilidade.
É por isso que tanta gente tem medo dela.”
George Bernard Shaw


Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Azáfama


“Nenhum trabalho de qualidade pode ser feito sem
concentração e auto-sacrifício, esforço e dúvida.”
Max Beerbohm


Medio tutissimus ibis.

domingo, 14 de outubro de 2012

Falaciar

“Filhinhos,
deixemos de dizer apenas
que amamos as pessoas;
vamos amá-las realmente
e mostrar isso pelas nossas ações.”

1 João 3.18


Medio tutissimus ibis.

sábado, 13 de outubro de 2012

Sazão

“Tempo não se tem, tempo se faz.”
Izequias Estevan dos Santos


Medio tutissimus ibis.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Gosto e não gosto*



Eu gosto de tudo que vem do leite.
Gosto muito de ricota.
Não gosto de caqui.

Eu gosto de ônibus.
E não gosto de táxi.
Adoro van, mas é arriscado.
Dirijo. E muito.

Amo The Big Bang Theory.
Adorei Os Normais.
Pirei com Família Soprano.
Curti Lost.
Gamei no Two and a Half Men.
Estou apaixonado por Tropicália.

De massas, eu gosto.
De lasagna, eu não gosto tanto.

Adoro comédia.
Até gosto de ação.
Não vejo filme musical.

Gosto mais de Fernando Pessoa que de Machado de Assis.
Detesto Jorge Amado.
Mas juro que não sou conservador

Moptop, O Rappa, Los Hermanos: gosto.
Jorge Ben Jor, Djavan, Chico Buarque: gosto.
Jota Quest: gosto muito.
Seu Jorge: gosto muito muito.
Lenine: cataploft.

Estilista favorito: que não exige gastos elevados.
Paira sobre todos: que cobra ou em que se cobra preço módico.

Canal Brasil, TV Cultura, Futura: sim.
Desenho animado: sim, até os ruins.
Saga fantástica: não, com algumas exceções.

Atender telefone: não.
Receber SMS: sim.
Desde que não seja da TIM/Oi.

Adoro InBox do Facebook.
Detesto Gtalk e MSN.

Orkut não.
Twitter até que vai.
Mas prefiro pizzaria.
Sem exagerar no Facebook.

___________
*Parafraseado da Heloisa Lupinacci.


Medio tutissimus ibis.

Alomorfia

“Somos o que fazemos,
mas somos, principalmente,
o que fazemos para mudar o que somos.”
Eduardo Galeano


Medio tutissimus ibis.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Quantum satis

“Quantas semanas tem um dia e quantos anos tem um mês?”
Pablo Neruda


Medio tutissimus ibis.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Paene


“É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota.”
Theodore Roosevelt


Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Assuada


“Se soubéssemos quantas e quantas vezes
as nossas palavras são mal interpretadas,
haveria muito mais silêncio neste mundo.”
Oscar Wilde
 
 
Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Austereza


“Tenho seis regras que me ensinaram tudo o que sei:
‘O quê?’, ‘Porquê?’, ‘Quando?’, ‘Como?’, ‘Onde?’ e ‘Quem?’.”
Rudyard Kipling


Medio tutissimus ibis.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Condão


“As pessoas não mudam quando chegam ao poder. Elas se revelam.”
Frei Betto


Medio tutissimus ibis.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Possum


“O poder intoxica os melhores corações,
como o vinho intoxica as cabeças mais sólidas.
Homem algum é bastante sábio ou bastante íntegro
para merecer um poder sem limites.”
Charles Caleb Colton


Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ideário




“A elaboração de novas ideias depende da libertação das formas habituais de pensamento e expressão. A dificuldade não está nas novas ideias, mas em escapar das velhas, que se ramificam por todos os cantos da nossa mente.”
J. M. Keynes


Medio tutissimus ibis.



sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Os Mandamentos Paradoxais



I
As pessoas são ilógicas, irracionais e egocêntricas.
Ame-as, apesar de tudo.

II
Se você fizer o bem, as pessoas o acusarão de ter motivos egoístas ocultos.
Faça o bem, apesar de tudo.

III
Se você tiver sucesso, ganhará falsos amigos e inimigos verdadeiros.
Busque o sucesso, apesar de tudo.

IV
O bem que você faz hoje será esquecido amanhã.
Faça o bem, apesar de tudo.

V
A honestidade e a franqueza o tornarão vulnerável.
Seja honesto e franco, apesar de tudo.

VI
Os maiores homens e mulheres com as maiores idéias podem ser eliminados pelos menores homens e mulheres com as mentes mais estreitas.
Pense grande, apesar de tudo.

VII
As pessoas favorecem os oprimidos, mas seguem somente os bem-sucedidos.
Lute pelos oprimidos, apesar de tudo.

VIII
Aquilo que você passa anos construindo poderá ser destruído da noite para o dia.
Construa, apesar de tudo.

IX
As pessoas realmente precisam de ajuda, mas poderão atacá-lo se você as ajudar.
Ajude as pessoas, apesar de tudo.

X
Dê ao mundo o melhor de você e levará um soco na cara.
Dê ao mundo o melhor de você, apesar de tudo.

Kent M. Keith
The paradoxical commandments.
Texto escrito quando ainda era estudante do ensino médio, em 1968


Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

No Caminho, com Maiakóvski



Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa


Medio tutissimus ibis.



sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Presentes


Fazer aniversário é sempre legal.
A cada primavera completada tenho por costume, ainda que inato, de fazer o mesmo que no Réveillon: reflexão.
Sempre penso no(s) ano(s) que passou(aram). Tento ponderar o que de ruim, o que de bom, o que de muito ou o que de pouco foi feito. Na maioria das vezes, a conclusão é a mesma: ainda há muito a melhorar!
Talvez a conclusão esteja intimamente ligada com a pergunta de Martin Luther King Jr.: Se você não estiver dando ao mundo o melhor de si, para qual mundo você está se guardando?
O dia é sempre bacana: felicitações generalizadas, desejos, palavras de bênçãos e, claro, presentes! 
Nesse ano, o melhor presente veio “tarde”. E não pense você que eu não espero mais presentes. Afinal, só é amanhã às 00h.
Ganhei pela manhã a ótima leitura de um texto sublime do meu grande amigo Marlon (Porque Insisto em Cristo). Depois de ler, senti ainda mais amor pelo amigo já deveras amado. Palavras que geram esperança e amor.
Também dos amigos queridos do trabalho, ganhei o box da terceira temporada de The Big Bang Theory e o CD d’um dos meus artistas favoritos, Seu Jorge.
A dupla Esposa&Filha me deram uma blusa e uma (já devorada!) Tortuguita.
Mas, o presente melhor estava por vir.
Ao entrar na rua, parar o carro em frente de casa, um senhor negro, de muletas e gesso na perna esquerda, passa fazendo um considerável esforço na suada caminhada. Mais a frente, a gente (eu, Carol e Zoe) o vê “desabar” na calçada. Com certeza na expectativa de recuperar ou reunir forças para continuar o trajeto.
Quem era o homem? Melhor: quem é o homem? Negro, forte, perna quebrada...
Sei que era negro. Sei que era forte. Sei que sua perna esquerda estava quebrada e que ele não “aguentara” a caminhada...
Sei que o coloquei no carro e o deixei em frente a sua casa.
Seu nome? Não sei. Não nos apresentamos. Só sei que ele é pintor e quebrou a perna ao cair da escada; que recebera alta médica ontem e que hoje conseguira marcar a perícia do INSS. Não tive a “astúcia” de me apresentar ou trocar maiores informações.
Ele não mora muito longe da minha casa, mas, talvez, na correria do dia-a-dia, não o veja tão cedo. Pena.
Aquele senhor me deu um belo presente de aniversário: a oportunidade de ajudá-lo; a oportunidade de, quiçá, gerar esperança; a oportunidade de ‘não me guardar para outro mundo’.
Acho que, antes de dormir, em suas preces diárias, ele vai se lembrar de mim. E se isso acontecer, será mais um belo presente.
Ah! A conclusão ainda é a mesma: ainda há muito a melhorar!
Rovan Berto

Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Costela marinada



Marcelo sentiu alguma coisa acariciar a sua perna por baixo da mesa. Lentamente, do calcanhar até atrás do joelho. O pé da Ana Luiza, só podia ser. Ana Luiza estava sentada do seu lado esquerdo, o lado da perna acariciada. Só ela podia alcançar a sua perna com seu pé sem se esticar. A Julinha, sentada na sua frente, teria que estender a perna ao ponto de quase desaparecer debaixo da mesa. E, mesmo, a Julinha era sua mulher. Por que ela faria aquilo? Era o pé da Ana Luiza, não havia dúvida. E se não fosse? Podia ter sido o gato. O rabo do gato. Difícil confundir um rabo de gato com um pé subindo por baixo da sua calça, mas a alternativa era aceitar que a Ana Luiza, logo a Ana Luiza, estava acariciando a sua perna. O gato era preferível, o gato seria um alívio. A Ana Luiza acariciando a sua perna, depois de todos aqueles anos, inauguraria tanta coisa diferente e surpreendente na vida deles todos, dele, da Julinha, do Alemão, marido da Ana Luiza, seu companheiro no tênis, sentado à sua direita, que precisava ser o gato. O gato, rezou Marcelo, em silêncio. Por favor, o gato. Não o pé da Ana Luiza. Não o pé da mulher do Alemão, seu melhor amigo. Qualquer coisa menos o pé da Ana Luiza. Um fantasma e não o pé da Ana Luiza! Marcelo olhou para Ana Luiza. Ela estava falando com a Julinha. Ela não é feia, pensou Marcelo. Nunca notara os seus seios. Mesmo na praia, nunca notara os seios altos e cheios da mulher do Alemão. Altos, cheios e juntos, como ele gostava. Cinco para a uma em vez de quinze para as três, como os da Julinha. Tentou se lembrar das pernas da Ana Luiza. Eram curtas, tinha quase certeza que eram curtas. Ela não conseguiria alcançar sua perna com o pé. Não sem se esticar por baixo da mesa. Fora o gato. Estava resolvido. Fora o gato. “Que fim levou o Clodovil?”, perguntou. Clodovil era o nome do gato. “No veterinário”, disse o Alemão. Pronto, não era o gato. Era o pé da Ana Luiza. A Ana Luiza está a fim. De uma hora para outra, depois de o quê? Doze, quinze anos de amizade, a Ana Luiza está me dizendo com o pé que está a fim de mim. Que depois de todos estes anos quer trocar a amizade por outra coisa, um caso, uma loucura. Que precisamos nos encontrar, longe do Alemão e da Julinha. Que nossas vidas mudarão por completo. Que adeus parceria no tênis. Que adeus temporadas na praia, quando as crianças se entendiam tão bem. Que adeus jantares alternados na casa de um e do outro casal, quando o Alemão cozinhava. Nunca mais as excursões de fim de semana. Nunca mais as noitadas de buraco e risadas. Meu Deus, nunca mais a costela marinada do Alemão! Marcelo sentiu o pé da Ana Luiza acariciando sua perna outra vez. Chutou o pé da Ana Luiza. “Sua costela está melhor do que nunca, Alemão”, disse Marcelo para o amigo. “Se desmanchando. Se desmanchando!”

Luis Fernando Verissimo


Medio tutissimus ibis.

domingo, 24 de junho de 2012

Amo-te por todas as razões e mais uma



Por todas as razões e mais uma. Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar. Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras. Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões. Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu.
Joaquim Pessoa


Medio tutissimus ibis.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Resíduo



De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
― vazio ―  de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

Carlos Drummond de Andrade


Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Poema de Natal



Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes


Medio tutissimus ibis.

domingo, 10 de junho de 2012

Traduzir-se



Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar


Medio tutissimus ibis.

sábado, 9 de junho de 2012

Perdi-me...



Não encontro o caminho
que me fará voltar
perdi o norte e o sul
e do nascente ou poente
apenas breves memórias
que vão ficando ancoradas
à beira do caminho
que não encontro...

Apenas vejo a luz
aquela que me invadiu
e que extravasa de mim
sem que eu entenda
sem que eu decida...

Perdi-me
e ainda assim,
rodopio em mim,
descalça no caminho,
sem norte
sem sul
apenas luz
que me inunda
me avassala
e deixo-me ir...
DairHilail


Medio tutissimus ibis.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Poética



De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Vinicius de Moraes

Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Riso frouxo



“Se quiserdes estudar um homem e conhecer sua alma, não presteis atenção à maneira pela qual ele se cala, ou pela qual fala, ou pela qual ele chora, ou mesmo pela qual se emociona com as mais nobres idéias. Olhai antes quando ri. Se ri bem, é porque é bom. E notai bem todos os matizes: é preciso por exemplo, que seu riso não vos pareça estúpido em nenhum caso, por mais alegre e ingênuo que seja. Assim que notardes o menor traço de estupidez no seu riso é certo ser esse homem de espírito limitado, ainda mesmo que nele pululem as idéias. Se seu riso não é estúpido, mas se o homem, ao rir, vos pareceu de repente ridículo nem que seja um tantinho, sabei então que esse homem não possui o verdadeiro respeito de si mesmo, ou pelo menos não o possui perfeitamente.”

Fiódor Dostoiévski


Medio tutissimus ibis.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Poema dos meus 43 anos



Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarro
nem bebida –
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter
um quarto....

de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carros,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiras,
motoristas de táxis...

e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos.
Charles Bukowski


Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Coração couraça


Porque te tenho e não
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e digo amor
porque vieste a recolher tua imagem
porque és melhor que todas tuas imagens
porque és linda desde o pé até a alma
porque és boa desde a alma a mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça
porque és minha
porque não és minha
porque te olho e morro
e pior que morro
se não te olho amor
se não te olho
porque tu sempre existes onde quer que seja
porém existes melhor onde te quero
porque tua boca é sangue
e tens frio
tenho que te amar amor
tenho que te amar
ainda que esta ferida doa como dois
ainda que busque e não te encontre
e ainda que
a noite pese e eu te tenha
e não

Mario Benedetti 


Medio tutissimus ibis.


domingo, 13 de maio de 2012

Intimidade



“Intimidade é quando a vida da gente relaxa diante de outra vida e respira macio. Não há porque se defender de coisa alguma nem porque se esforçar para o que quer que seja. O coração pode espalhar os seus brinquedos. Cantar a música que cada instante compõe. Bordar cada encontro com as linhas do seu próprio novelo. Contar as paisagens que vê enquanto cria o caminho. Andar descalço, sem medo de ferir os pés.”
Ana Jácomo

Medio tutissimus ibis.

sábado, 5 de maio de 2012

Abdicação



Conformar-se é submeter-se e vencer é conformar-se, ser vencido. Por isso toda vitória é uma grosseria. Os vencedores perdem sempre todas as qualidades de desalento com o presente que os levaram à luta que lhes deu a vitória.
Ficam satisfeitos, e satisfeito só pode estar aquele que se conforma, que não tem a mentalidade do vencedor. Vence só quem nunca consegue. Só é forte quem desanima sempre. O melhor e o mais púrpura é abdicar.
O império supremo é o do Imperador que abdica de toda a vida normal, dos outros homens, em quem o cuidado da supremacia não pesa como um fardo de jóias.
Fernando Pessoa

Medio tutissimus ibis.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Felizárduo


"A felicidade é o objetivo da busca eterna e universal que vem ocupando a mente humana desde os primórdios da criação. As pessoas podem diferir em suas perspectivas políticas e religiosas, filosofias de vida, perfis psicológicos, cultura e raça, mas todos, sem exceção, querem ser felizes. A felicidade é a meta do pobre e do rico, do erudito e do ignorante, do santo e do pecador, do ateu e do crente, do ascético e do indulgente. É por causa da felicidade que aspirantes espirituais oram, trapaceiros trapaceiam, açambarcadores açambarcam, caridosos entregam-se à caridade, bêbados bebem, ladrões roubam e penitentes se arrependem. Almejando felicidade uns se casam, outros se divorciam, alguns cometem suicídio e outros se tornam homicidas. E no entanto, a perseguição à felicidade resulta numa tentativa caótica, absurda, infrutífera. Ninguém tem certeza de como alcançá-la. Nenhum ramo de estudo nos trouxe qualquer conhecimento a respeito do segredo da felicidade. A religião enfatiza a salvação e a filosofia, a busca da verdade. Os moralistas falam a respeito do dever e os psicólogos nos pedem que enfrentemos e convivamos com a infelicidade. Os cientistas pouco se importam com nossos sentimentos e os economistas dão valor tão-somente à riqueza e prosperidade. Nenhum deles se dedica ao problema da felicidade. Em busca da felicidade as pessoas frequentemente se comportam de forma estranha. Alguns ficam felizes quando os outros estão felizes, alguns são felizes quando os outros são infelizes e existem até mesmo aqueles que são felizes quando eles próprios são infelizes. Uns têm esperança de comprar a felicidade enquanto outros há que tentam usurpá-la do próximo. Há aqueles que buscam alcançar a felicidade através do domínio, pelo poder; outros, no apego às coisas. Desta forma, estamos todos, constantemente, perseguindo a felicidade ao invés de sermos felizes. Não admira, portanto, que nasçamos chorando, vivamos nos lamuriando e morramos frustrados." 
Swami Adiswarananda


Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Burrice


"Nunca discuta com pessoas burras,
elas vão te arrastar ao nível delas e ganhar de você
por ter mais experiencia em ser ignorante."

Mark Twain


Medio tutissimus ibis.

domingo, 29 de abril de 2012

Confiar


A aventura de ser pai é inenarrável. Tudo é uma grande descoberta, pra ela e para mim.
Eu sou pai d’um pequeno ser de 2 anos e 10 meses. De nome Zoe, essa pequena me deslumbra a cada dia.
Ontem, em meio as suas artes (com duplo sentido: artes de artístico e artes de travessura) ela caiu e ralou o buço.
Eu não estava perto mas, de longe ouvi o choro. Minha mãe a pegou e ela chorava e chorava e chorava.
Fui ver, ofereci meu colo e prontamente ela aceitou. Chorou e chorou. Eu a peguei e disse: “Calma, filha! Olha pro papai”, ela olhou e eu continuei, “Papai tá aqui! Calma!”. Quase que num ato mágico, o choro cessou.
Ela fungou, eu limpei a lágrima que escorria na bochecha e dei um beijo falando novamente que o “papai estava ali”.
Confiança. Acho que é a palavra certa pra calmaria em meio a tempestade desse pequeno ocorrido.
Estava ralado, saindo um pouquinho de sangue, com certeza estava ardendo e doendo. Mas o choro parou. Ela confiou no que disse. Ela sabia que o pai dela estava ali.
Lembrei de JotaCê quando pergunta “se a Zoe pedir pão, você a enganaria com serragem? Se pedir peixe, iria assustá-la com uma cobra viva servida na bandeja? Mau como é, você não pensaria em algo assim, pois se porta com decência, pelo menos com sua filha. Não acha, então, que o Deus que o criou com amor fará ainda melhor?”.
É confiança mesmo. É confiar que o Pai vai estar fazendo melhor. Num pequeno ralado que arde ou numa dor deveras maior.
Ela confiou em meio a dor. Talvez o colo e a segurança que eu oferecia faziam com que a dor não fosse tão grande. E, às vezes, quiçá é só ficar em silêncio e ouvir o Pai falar, “calma, Papai está aqui!”. A dor ou a ardência podem continuar, mas o colo, a segurança e a voz do Pai trazem a confiança e a percepção de que a dor não é tão grande quanto parece.
Medio tutissimus ibis.

sábado, 24 de março de 2012

Tic-tac


“Bem sei que não há nada de novo sob o céu,
que antes outros pensaram as cousas que ora eu penso.
Bem, para que escrevo?
Bem, porque somos assim:
relógios que repetem eternamente o mesmo.”
Rosalía de Castro


Medio tutissimus ibis.


sábado, 17 de março de 2012

Dêixis


"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam."
Jack Kerouac


Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Relacionar-se


“Relacionar-se é vocação, difícil e rara.
A concentração é contínua, o trabalho é de artesão.
Um desafio delicioso.”
Cinthya Verri


Medio tutissimus ibis.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Amor integral


Pratique o amor integral
uma vez por dia
desde a aurora matinal
até a hora em que o mocho espia.

Não perca um minuto só
neste regime sensacional.
Pois a vida é um sonho e, se tudo é pó,
que seja pó de amor integral.
Carlos Drummond de Andrade

Medio tutissimus ibis.