terça-feira, 1 de novembro de 2011

Incompletude


A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou – eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Manoel de Barros


Medio tutissimus ibis.

A arte do descontentamento

“Não gosto do dia. Nem da noite. O calor me incomoda. O frio entristece. Chuva, me mata de medo. Da seca fujo eternamente. Não gosto do trabalho. Não consigo abandoná-lo. Quero descanso, não sei parar. Deveria.
Gosto da cidade, com a mesma intensidade que a detesto. Quero viver no campo, mas o tédio me assusta. Ainda ergo um arranha-céu, ou criarei galinhas. Sou amigo do ócio. Ponto.
Se durmo, quero acordar. Quando acordo, pra quê? Na vida, vejo pouco propósito. Mas é tanto tempo. E há muito a se viver. Falta-me paciência. Sobram-me as desculpas.
Fui privado, em algum momento da existência, da dose adequada do elixir da satisfação, da felicidade.
Pra mim, vai tudo mal. Até que fica bem.”
Rodrigo Bressane


Medio tutissimus ibis.