segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ode ao crentês



Eu insulto o crentês! O crentês-níquel,
o crentês-crentês!
A digestão malfeita da igreja!
O crentês-curva! O crentês-nádegas!
O crentês que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um espiritual pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias eclesiais!
Os apóstolos lampiões! os bispos Joões! os líderes
zurros!
que vivem dentro dos “templos” aos pulos;
e exigem sangues de alguns mil-fiéis fracos
para dizerem que os crentes falam o angeliquês
e tocam os “céus” com seus louvores!

Eu insulto o crentês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das revelações!
Fora os que determinam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva de bênçãos
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades eclesiais!
Morte ao crentês-mensal!
ao crentês-campanha! ao crentês uno-mille!
Show da fé! Morte viva aos voluntários!
– Ai, deus, o que tens pra mim nos teus planos?
– Uma casa na praia… – Um milhão e meio!!!!
E os sem fé morrerão de fome!”

Come! Come-te a ti mesmo, oh religiosidade pasma!
Oh! Purée de batatas espirituais!
Oh! Cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ira aos regulamentos não bíblicos!
Ira aos jejuns musculares! Morte à falsa reverência!
Ira ao bençãocentrismo! Ira aos im-pecáveis!
Ira aos desfalecimentos sem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices eclesiais!
De mãos pro alto! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira unção! Vigia!
Todos para a central-gospel da minha ira inebriante.
Ira e repúdio! Ira e raiva! Ira e mais ira!

Morte ao crentês de joelhos,
fedendo religião e que não respeita a palavra de Deus!
Ira arco-íris! Ira fecunda! Ira cíclica!
Ira fundamentada, sem chavões!
Fora! Fu! Fora o crentês!…
Zé Libério


Medio tutissimus ibis.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Est modus in rebus


Perdoem-me o desgosto! Está insuportável!
Perdoem-me, irmãos, eu confesso a tão aguardada confissão de minha boca. Sim, eu confesso que não posso mais deixar de declarar a minha alma. Para mim é questão de vida ou morte. Perdoem-me, irmãos, mas eu preciso confessar.
Sim, eu confesso…
Está insuportável. Se eu não abrir a minha boca, minha alma explodirá em mim.
É insuportável ligar a televisão e ver o culto que se faz ao Monte Sinai, que gera para escravidão. Os Gálatas são o nosso jardim da infância. Nós nos tornamos PHDs do retrocesso à Lei e aos sacrifícios. Pisa-se sobre a Cruz de Cristo em nome de Jesus. Insuportável! Seja anátema!
É insuportável ver o culto à fé na fé, e também assistir descarados convites feitos em nome de Deus para que se façam novos sacrifícios, visto que o de Jesus não foi suficiente, e Deus só atende se alguém fizer voto de frequência ao templo, e de dinheiro aos sacerdotes do engano e da ganância. Insuportável!
É insuportável assistir ao silêncio de todos os dantes protestantes – e que até hoje ofendem os cultos afro-ameríndios por seus sacrifícios, sendo que estes ainda têm razão para sacrificar, visto que não confessam e não oram em nome de Jesus – ante o estelionato feito em e do nome de Jesus, quando se convida o povo para sacrificar a Deus, tornando o sacrifício de Jesus algo menor e dispensável. Insuportável!
É insuportável ver o povo sendo levado para debaixo do jugo da Lei quando se ressuscitam as maldições todas do Velho Testamento, e que morreram na Cruz, quando Jesus se fez maldição em nosso lugar. Insuportável!
É insuportável ver que para a maioria dos cristãos a Lei não morreu em Cristo, conforme a Palavra, visto que mantêm-na vigente como “mandamento de vida”, mas que apenas existe para gerar culpa e morte, também conforme a Escritura. Insuportável!
É insuportável ver e ouvir pastores tratando a Graça de Deus como se fosse uma parte da Revelação, como mais uma doutrina, sem discernir que não há nada, muito menos qualquer Revelação, se não houver sempre, antes, durante, depois, transcendentemente e imanentemente, Graça e apenas Graça. Misericórdia!
É insuportável ver a Bíblia sendo ensinada por cegos e que guiam outros cegos, visto que nem mesmo passaram da Bíblia como livro santo, desconhecendo a Revelação da Palavra da Graça do Evangelho de Deus. Insuportável tristeza!
É insuportável ver que os cristãos “acreditam em Deus”, sem saber que nada fazem mais que os demônios quando assim professam, posto que não estamos nesta vida para reconhecer que Deus existe, mas para amá-Lo e conhecê-Lo. Insuportável desperdício!
É insuportável enxergar que a mensagem do Evangelho foi transformada em guia religioso, no manual da verdade dos cristãos, mais uma doutrina da Terra. Insuportável humilhação!
É insuportável ver os que pensam que possuem a doutrina certa jamais terem a coragem de tentar vivê-la como mergulho existencial de plena confiança, mas tão somente como guia de bons costumes e de elevados padrões morais. Insuportável religiosidade!
É insuportável ver gente tentando “estudar Deus”, e a ensinar aos outros a “anatomia do divino”, ou a buscar analisar Deus como parte de um processo, no qual Deus está aprendendo junto conosco, não sabendo tais mestres que são apenas fabricantes de ídolos psicológicos. Insuportável sutileza!
É insuportável ver que há muitos que sabem, mas que nada dizem; vêem, mas nada demonstram; discernem, mas em nada confrontam; conhecem, mas tratam como se nada tivesse consequências… Insuportável…
É insuportável ver que se prega o método de crescimento de igreja, não a Palavra; que se convida para a igreja, não mais para Jesus; e que a cada cinco anos toda a moda da igreja muda, conforme o que chamam de “novo mover”. Insuportável vazio!
É insuportável ouvir pastores dizendo que o que você diz é verdade, mas que eles não têm coragem de botar a cara para apanhar, mesmo que seja pela verdade e pela justiça do evangelho do reino de Deus. Insuportável dissimulação!
É insuportável ver um monte de homens e mulheres velhos e adultos brincando com o nome de Deus, posando de pastores, pastoras, bispos, bispas, apóstolos e apóstolas, sendo que eles mesmos não se enxergam, e não percebem o espetáculo patético no qual se tornaram, e o ridículo de suas aspirações messiânicas estereotipadas e vazias do Espírito. Insuportável jactância e loucura!
É insuportável ver Jesus sendo tratado como “poder maior” e não como único poder verdadeiro. Insuportável idolatria!
É insuportável ver o diabo ser glorificado pela frequência com a qual se menciona o seu nome nos cultos, sendo que Paulo dele falou menos de uma dúzia de vezes em todas as suas cartas, e as alusões que Jesus fez a ele foram mínimas. No entanto, entre nós o diabo está entronizado como o inimigo de Cristo e o Senhor das Culpas e Medos. E, assim, pela frequência com a qual ele é mencionado, ele é crido; e seu poder cresce na alma dos humanos, a maioria dos quais sabe apenas do Medo da Lei, e nada acerca da Total Libertação que temos da Lei e do diabo na Graça de Jesus, que o despojou na Cruz. Insuportável culto!
É insuportável ver seres humanos sendo jogados fora do lugar de culto por causa de comida, bebida, cigarro, roupa, sexualidade, ou catástrofes de existência. Isto enquanto se alimenta o povo com maldade, inveja, mentira, politicagem, facções, e maldições. Insuportável é coar o mosquito e engolir o camelo!
É chegada a hora do juízo sobre a Casa de Deus!
De Deus não se zomba, pois aquilo que o homem semear, isto também ceifará. A eternidade está às portas. Então todos saberão que não minto, mas falo a verdade, conforme a Palavra do Evangelho de Jesus.
Com tremor e temor, porém certo da verdade de Jesus,
Caio Fábio D'Araújo Filho

Medio tutissimus ibis. 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O seu Santo nome

Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.
Carlos Drummond de Andrade

Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A praga PC

A praga PC [policamente correto] detesta a culpa.
Uma das coisas mais comuns nos politicamente corretos é negar a culpa dizendo que é a sociedade que “impõe” a culpa como forma de controle. A famosa culpa judaico-cristã.
Antes de tudo, a ignorância típica do politicamente correto salta aos olhos porque a culpa não é um fenômeno ocidental, e mesmo o darwinismo aponta a culpa (vergonha e mal-estar moral) como um dos centros afetivos da vida moral do bando de caçadores-coletores, célula máter ancestral de nossa vida social.
Nada é mais profundo do que uma pessoa com os olhos vidrados de culpa. Pessoas sem culpa são monstros morais. O discurso segundo o qual a culpa é uma forma pensada de controle dos mais fortes sobre os mais fracos (em que pese o fato de que a culpa pode mesmo ser manipulada, como tudo mais que é verdadeiro na vida humana) é falso e indica antes de tudo uma mentalidade infantil, na medida em que se sentir culpado é um dos modos mais típicos da consciência moral.
Em assuntos como esses, melhor do que a argumentação pura e simples é a experiência. Você caro leitor, já fez mal a alguém? Alguém que não merecia? Se a resposta for não, você é um mentiroso.
Luiz Felipe Pondé


Medio tutissimus ibis.