quarta-feira, 30 de maio de 2012

Poética



De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Vinicius de Moraes

Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Riso frouxo



“Se quiserdes estudar um homem e conhecer sua alma, não presteis atenção à maneira pela qual ele se cala, ou pela qual fala, ou pela qual ele chora, ou mesmo pela qual se emociona com as mais nobres idéias. Olhai antes quando ri. Se ri bem, é porque é bom. E notai bem todos os matizes: é preciso por exemplo, que seu riso não vos pareça estúpido em nenhum caso, por mais alegre e ingênuo que seja. Assim que notardes o menor traço de estupidez no seu riso é certo ser esse homem de espírito limitado, ainda mesmo que nele pululem as idéias. Se seu riso não é estúpido, mas se o homem, ao rir, vos pareceu de repente ridículo nem que seja um tantinho, sabei então que esse homem não possui o verdadeiro respeito de si mesmo, ou pelo menos não o possui perfeitamente.”

Fiódor Dostoiévski


Medio tutissimus ibis.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Poema dos meus 43 anos



Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarro
nem bebida –
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter
um quarto....

de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carros,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiras,
motoristas de táxis...

e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos.
Charles Bukowski


Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Coração couraça


Porque te tenho e não
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e digo amor
porque vieste a recolher tua imagem
porque és melhor que todas tuas imagens
porque és linda desde o pé até a alma
porque és boa desde a alma a mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça
porque és minha
porque não és minha
porque te olho e morro
e pior que morro
se não te olho amor
se não te olho
porque tu sempre existes onde quer que seja
porém existes melhor onde te quero
porque tua boca é sangue
e tens frio
tenho que te amar amor
tenho que te amar
ainda que esta ferida doa como dois
ainda que busque e não te encontre
e ainda que
a noite pese e eu te tenha
e não

Mario Benedetti 


Medio tutissimus ibis.


domingo, 13 de maio de 2012

Intimidade



“Intimidade é quando a vida da gente relaxa diante de outra vida e respira macio. Não há porque se defender de coisa alguma nem porque se esforçar para o que quer que seja. O coração pode espalhar os seus brinquedos. Cantar a música que cada instante compõe. Bordar cada encontro com as linhas do seu próprio novelo. Contar as paisagens que vê enquanto cria o caminho. Andar descalço, sem medo de ferir os pés.”
Ana Jácomo

Medio tutissimus ibis.

sábado, 5 de maio de 2012

Abdicação



Conformar-se é submeter-se e vencer é conformar-se, ser vencido. Por isso toda vitória é uma grosseria. Os vencedores perdem sempre todas as qualidades de desalento com o presente que os levaram à luta que lhes deu a vitória.
Ficam satisfeitos, e satisfeito só pode estar aquele que se conforma, que não tem a mentalidade do vencedor. Vence só quem nunca consegue. Só é forte quem desanima sempre. O melhor e o mais púrpura é abdicar.
O império supremo é o do Imperador que abdica de toda a vida normal, dos outros homens, em quem o cuidado da supremacia não pesa como um fardo de jóias.
Fernando Pessoa

Medio tutissimus ibis.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Felizárduo


"A felicidade é o objetivo da busca eterna e universal que vem ocupando a mente humana desde os primórdios da criação. As pessoas podem diferir em suas perspectivas políticas e religiosas, filosofias de vida, perfis psicológicos, cultura e raça, mas todos, sem exceção, querem ser felizes. A felicidade é a meta do pobre e do rico, do erudito e do ignorante, do santo e do pecador, do ateu e do crente, do ascético e do indulgente. É por causa da felicidade que aspirantes espirituais oram, trapaceiros trapaceiam, açambarcadores açambarcam, caridosos entregam-se à caridade, bêbados bebem, ladrões roubam e penitentes se arrependem. Almejando felicidade uns se casam, outros se divorciam, alguns cometem suicídio e outros se tornam homicidas. E no entanto, a perseguição à felicidade resulta numa tentativa caótica, absurda, infrutífera. Ninguém tem certeza de como alcançá-la. Nenhum ramo de estudo nos trouxe qualquer conhecimento a respeito do segredo da felicidade. A religião enfatiza a salvação e a filosofia, a busca da verdade. Os moralistas falam a respeito do dever e os psicólogos nos pedem que enfrentemos e convivamos com a infelicidade. Os cientistas pouco se importam com nossos sentimentos e os economistas dão valor tão-somente à riqueza e prosperidade. Nenhum deles se dedica ao problema da felicidade. Em busca da felicidade as pessoas frequentemente se comportam de forma estranha. Alguns ficam felizes quando os outros estão felizes, alguns são felizes quando os outros são infelizes e existem até mesmo aqueles que são felizes quando eles próprios são infelizes. Uns têm esperança de comprar a felicidade enquanto outros há que tentam usurpá-la do próximo. Há aqueles que buscam alcançar a felicidade através do domínio, pelo poder; outros, no apego às coisas. Desta forma, estamos todos, constantemente, perseguindo a felicidade ao invés de sermos felizes. Não admira, portanto, que nasçamos chorando, vivamos nos lamuriando e morramos frustrados." 
Swami Adiswarananda


Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Burrice


"Nunca discuta com pessoas burras,
elas vão te arrastar ao nível delas e ganhar de você
por ter mais experiencia em ser ignorante."

Mark Twain


Medio tutissimus ibis.