sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Os Mandamentos Paradoxais



I
As pessoas são ilógicas, irracionais e egocêntricas.
Ame-as, apesar de tudo.

II
Se você fizer o bem, as pessoas o acusarão de ter motivos egoístas ocultos.
Faça o bem, apesar de tudo.

III
Se você tiver sucesso, ganhará falsos amigos e inimigos verdadeiros.
Busque o sucesso, apesar de tudo.

IV
O bem que você faz hoje será esquecido amanhã.
Faça o bem, apesar de tudo.

V
A honestidade e a franqueza o tornarão vulnerável.
Seja honesto e franco, apesar de tudo.

VI
Os maiores homens e mulheres com as maiores idéias podem ser eliminados pelos menores homens e mulheres com as mentes mais estreitas.
Pense grande, apesar de tudo.

VII
As pessoas favorecem os oprimidos, mas seguem somente os bem-sucedidos.
Lute pelos oprimidos, apesar de tudo.

VIII
Aquilo que você passa anos construindo poderá ser destruído da noite para o dia.
Construa, apesar de tudo.

IX
As pessoas realmente precisam de ajuda, mas poderão atacá-lo se você as ajudar.
Ajude as pessoas, apesar de tudo.

X
Dê ao mundo o melhor de você e levará um soco na cara.
Dê ao mundo o melhor de você, apesar de tudo.

Kent M. Keith
The paradoxical commandments.
Texto escrito quando ainda era estudante do ensino médio, em 1968


Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

No Caminho, com Maiakóvski



Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa


Medio tutissimus ibis.



sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Presentes


Fazer aniversário é sempre legal.
A cada primavera completada tenho por costume, ainda que inato, de fazer o mesmo que no Réveillon: reflexão.
Sempre penso no(s) ano(s) que passou(aram). Tento ponderar o que de ruim, o que de bom, o que de muito ou o que de pouco foi feito. Na maioria das vezes, a conclusão é a mesma: ainda há muito a melhorar!
Talvez a conclusão esteja intimamente ligada com a pergunta de Martin Luther King Jr.: Se você não estiver dando ao mundo o melhor de si, para qual mundo você está se guardando?
O dia é sempre bacana: felicitações generalizadas, desejos, palavras de bênçãos e, claro, presentes! 
Nesse ano, o melhor presente veio “tarde”. E não pense você que eu não espero mais presentes. Afinal, só é amanhã às 00h.
Ganhei pela manhã a ótima leitura de um texto sublime do meu grande amigo Marlon (Porque Insisto em Cristo). Depois de ler, senti ainda mais amor pelo amigo já deveras amado. Palavras que geram esperança e amor.
Também dos amigos queridos do trabalho, ganhei o box da terceira temporada de The Big Bang Theory e o CD d’um dos meus artistas favoritos, Seu Jorge.
A dupla Esposa&Filha me deram uma blusa e uma (já devorada!) Tortuguita.
Mas, o presente melhor estava por vir.
Ao entrar na rua, parar o carro em frente de casa, um senhor negro, de muletas e gesso na perna esquerda, passa fazendo um considerável esforço na suada caminhada. Mais a frente, a gente (eu, Carol e Zoe) o vê “desabar” na calçada. Com certeza na expectativa de recuperar ou reunir forças para continuar o trajeto.
Quem era o homem? Melhor: quem é o homem? Negro, forte, perna quebrada...
Sei que era negro. Sei que era forte. Sei que sua perna esquerda estava quebrada e que ele não “aguentara” a caminhada...
Sei que o coloquei no carro e o deixei em frente a sua casa.
Seu nome? Não sei. Não nos apresentamos. Só sei que ele é pintor e quebrou a perna ao cair da escada; que recebera alta médica ontem e que hoje conseguira marcar a perícia do INSS. Não tive a “astúcia” de me apresentar ou trocar maiores informações.
Ele não mora muito longe da minha casa, mas, talvez, na correria do dia-a-dia, não o veja tão cedo. Pena.
Aquele senhor me deu um belo presente de aniversário: a oportunidade de ajudá-lo; a oportunidade de, quiçá, gerar esperança; a oportunidade de ‘não me guardar para outro mundo’.
Acho que, antes de dormir, em suas preces diárias, ele vai se lembrar de mim. E se isso acontecer, será mais um belo presente.
Ah! A conclusão ainda é a mesma: ainda há muito a melhorar!
Rovan Berto

Medio tutissimus ibis.