O antigo Duque de Windsor, que por um curto
período de tempo foi o Rei Eduardo 8, morreu em Paris em maio de 1972. Naquela
noite, um interessante documentário foi apresentado na televisão britânica.
Incluía partes extraídas de filmes que mostravam Eduardo 8 sendo questionado a
respeito de sua educação, seu breve reinado e sua abdicação.
Lembrando-se de seu passado, ele disse: “Meu pai
[o rei George 5] foi um rígido disciplinador. Quando eu fazia algo errado, ele
às vezes me advertia dizendo: ‘Meu querido menino, você deve sempre se lembrar
de quem é’”. Se ele apenas se lembrasse de que era um príncipe real destinado
ao trono, não se comportaria de forma inadequada.
A pergunta é: quem somos nós? E não há no Novo
Testamento um texto que apresente um registro mais variado e equilibrado do que
significa ser um discípulo do que 1Pedro 2.1-17:
Despojando-vos, portanto, de toda maldade e
dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai
ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para
que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a
experiência de que o Senhor é bondoso.
Chegando-vos para ele, a pedra que vive,
rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós
mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes
sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a
Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura
Eis que ponho em Sião uma pedra angular,
eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Para
vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes,
A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra,
angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa.
São estes os que tropeçam na palavra, sendo
desobedientes, para o que também foram postos. Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de
Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes
misericórdia.
Amados, exorto-vos, como peregrinos e
forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra
contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para
que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em
vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.
Sujeitai-vos a toda instituição humana por
causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como
enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que
praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem,
façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando,
todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.
Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei.
Em uma série de metáforas variadas, o apóstolo
ilustra quem somos nós. Cada uma delas carrega consigo uma obrigação correspondente.
Juntas elas podem ser chamadas cristianismo, de acordo com Pedro.
Bebês
Pedro compara seus leitores a bebês
recém-nascidos porque eles nasceram de novo (1Pedro 1.23). Mas o que é o novo
nascimento? Dizer que é o que acontece quando somos batizados como membros da
igreja é um erro. De fato, o batismo é o sacramento do novo nascimento. Isto é,
ele é uma dramatização externa e visível do novo nascimento. Porém, não devemos
confundir o símbolo com a realidade, ou a placa com o que é representado.
O novo nascimento é uma mudança profunda,
interior e radical, realizada pelo Espírito Santo em nossa personalidade
humana, que nos concede um novo coração e uma nova vida e rios faz uma nova
criatura. Além do mais, como Jesus afirmou em sua conversa com Nicodemos, ele é
indispensável. “Importa-vos nascer de novo” (João 3.7), disse ele.
O problema é que não emergimos do novo nascimento
com o entendimento e o caráter de um cristão maduro, nem com asas angelicais
totalmente desenvolvidas (!), mas, em vez disso, “como crianças recém-nascidas”
– fracas, imaturas, vulneráveis e, acima de tudo, precisando crescer. E por
isso que o Novo Testamento fala da necessidade de crescer em conhecimento,
santidade, fé, amor e esperança. Assim, Pedro escreve que seus leitores devem
“crescer” em sua salvação (v. 2). Isso quer dizer que eles devem se desfazer de
“toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de
maledicências” (v. 1), pois (deduz ele) essas coisas são infantis. Então
devemos deixá-las e crescer na semelhança com Cristo.
Porém, como devemos crescer? Tendo em mente a
figura de um bebê recém-nascido, observamos no versículo 2 a referência de
Pedro ao “genuíno leite espiritual”: “Desejai ardentemente, como crianças
recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado
crescimento para salvação”.
Em outras palavras, assim como, para uma criança,
o segredo do crescimento saudável é a regularidade de uma dieta correta, a
alimentação diária e disciplinada é a principal condição para o crescimento
espiritual.
Então que leite devemos consumir para crescer em
maturidade cristã? De acordo com a Bíblia Almeida Revista e Atualizada, é o
“genuíno leite espiritual”. O adjetivo grego é logikos. Essa palavra
pode ter o significado literal de “metafísico”, oposto ao leite da vaca, ou
“racional”, que quer dizer alimento para a mente e para o corpo, ou “a palavra
de Deus”, como em 1Pedro 1.23. A Palavra de Deus certamente é tão
indispensável para o nosso crescimento espiritual quanto o leite materno o é
para o crescimento do bebê. “Deseje-o ardentemente”, incentiva Pedro, “se é que
já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso” (1Pedro 2.3). O teólogo Edward
Gordon Selwyn, em seu comentário, sugere que Pedro tem em mente “o entusiasmo
de uma criança amamentada”. Pedro parece dizer: “Vocês já provaram, agora
saciem-se”.
Na vida cristã a disciplina diária é uma profunda
necessidade. William Temple, arcebispo de Canterbury durante a Segunda Guerra
Mundial, disse para uma multidão de jovens:
A lealdade dos jovens cristãos deve ser
primeira e principalmente ao próprio Cristo. Nada pode tomar o lugar do tempo
diário de comunhão íntima com o Senhor [...]. De alguma forma, encontre tempo
para isso e assegure-se de que é uma experiência verdadeira.
Pedras
A segunda metáfora que Pedro apresenta é a de pedras
vivas (1Pedro 2.4-8). Ele sai do mundo da biologia (nascimento e
crescimento) e vai para o mundo da arquitetura (pedras e construções).
Estivemos na enfermaria de uma maternidade observando um recém-nascido ter sede
de leite; agora, vamos observar um prédio em construção. Ele é feito de pedras
e não temos dificuldade de reconhecer que é uma igreja. Não o tipo de prédio ao
qual damos o nome de igreja hoje, mas a Igreja do Deus vivente, o povo de Deus.
Como as pedras na construção são pessoas, Pedro as chama “pedras que vivem”.
E importante nos alegrarmos ao perceber que Deus
está construindo a sua igreja ao redor do mundo. Pode ser que algumas religiões
(antigas e modernas) vivenciem um renascimento, pode ser que o secularismo
invada a igreja do Ocidente, e pode ser que grupos e governos hostis persigam a
igreja e ela seja forçada a se esconder. No entanto, a igreja continua
crescendo.
Na verdade, nada pode destruir a igreja de Deus.
Jesus prometeu que as “portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus
16.18). Isto é, a igreja tem um destino eterno. Ela é indestrutível. O prédio
cresce pedra por pedra, até que um dia a cumeeira é colocada no lugar e a
construção está completa.
Como, então, nos unimos à igreja? Ingressamos na
expressão visível, externa da igreja pelo batismo. Mas como nos tornamos parte
do povo de Deus? Observe 1Pedro 2.4: “Chegando-vos para ele”, para a Pedra
Viva, isto é, Jesus Cristo, rejeitado pelos homens, mas precioso para Deus, e
sendo edificados como casa espiritual. Nos versículos 6-8, Pedro reúne uma
série de textos do Antigo Testamento (de Jeremias e dos Salmos) sobre pedras e
rochas. Significativamente, ele as aplica a Cristo, não a si próprio. Pois
Pedro não é a rocha na qual edificamos nossa vida: Cristo é a Pedra Viva,
rejeitado por Israel, mas escolhido por Deus e precioso para ele.
A implicação disso é que certamente somos membros
uns dos outros. Se os bebês precisam de leite para crescer, as pedras precisam
de argamassa para se ligarem mutuamente. Imagine um prédio. Cada pedra é
cimentada às outras e assim se torna parte da construção. Nenhuma delas fica
suspensa no ar. Todas pertencem ao prédio e não podem ser retiradas dele.
Refletindo sobre isso, apliquemos o ensino de
Pedro a nós mesmos. O que Jesus Cristo significa para nós? Ele é uma pedra de
tropeço na qual esfolamos a canela e caímos? Ou é a pedra fundamental sobre a
qual estamos construindo a vida?
Alguns anos atrás tive a oportunidade de me
encontrar e conversar com Hobart Mowrer, professor emérito de psiquiatria da
Universidade de Illinois e na época alguém muito conhecido. Ele não era cristão
e me disse ter tido uma briga com a igreja. Segundo Mowrer, a igreja havia
falhado com ele em sua juventude e continuava falhando com seus pacientes. E
acrescentou: “A igreja nunca aprendeu o segredo de comunidade”. Essa é uma das
críticas mais condenatórias à igreja que já ouvi. Pois a igreja é
comunidade, pedras vivas no prédio de Deus.
Precisamos resgatar a visão comunitária da
igreja, das pedras que vivem no prédio de Deus. Além do mais, é preciso uma
argamassa da melhor qualidade.
Sacerdotes
Até aqui, Pedro nos comparou a recém-nascidos,
cujo dever é crescer, e a pedras vivas, cujo dever é amar e apoiar-se mutuamente.
Agora ele chega à terceira metáfora e nos compara a sacerdotes santos, cujo
dever é adorar a Deus.
Para muitos cristãos, tal metáfora causa surpresa
e até mesmo choque. Apesar disso, não podemos ignorá-la. Pedro escreve que Deus
nos fez tanto “sacerdócio santo” (v. 5) como “sacerdócio real” (v. 9). O que o
apóstolo quer dizer?
Na época do Antigo Testamento, os sacerdotes
israelitas possuíam dois privilégios. Primeiro, eles desfrutavam do acesso a
Deus. O Templo de Herodes era rodeado pelo átrio dos sacerdotes, de onde o povo
era rigorosamente excluído. Apenas os sacerdotes tinham permissão para entrar
no templo, e somente o sumo sacerdote podia entra no santo dos santos ou
santuário interno – e apenas no dia da propiciação. Para salientar, a lei prescrevia
a pena de morte para todos os intrusos. Isso significa que o acesso a Deus era
restrito ao sacerdócio e negado ao povo.
O segundo privilégio era o oferecimento de
sacrifícios a Deus. O povo trazia os sacrifícios e impunha as mãos sobre a
cabeça das vítimas, tanto para se identificar com elas quanto para transferir,
simbolicamente, a culpa. Porém, só os sacerdotes tinham permissão para matar os
animais para o sacrifício, cumprir o ritual e aspergir o sangue.
Na época do Antigo Testamento, o acesso e o
sacrifício eram os dois privilégios reservados estritamente ao sacerdócio.
Porém, atualmente, e por meio de Jesus Cristo,
essa distinção entre sacerdote e povo foi abolida. Os privilégios que antes
eram limitados aos sacerdotes agora são compartilhados por todos, pois todos
são sacerdotes. Toda a igreja é um sacerdócio. Por intermédio de Cristo, todos
nós gozamos do acesso a Deus (temos ousadia para entrar na santa presença de
Deus, Hebreus 10.19-22). Por meio de Cristo, todos nós oferecemos a Deus os sacrifícios
espirituais da nossa adoração. Esse é o “sacerdócio universal dos cristãos”,
que os reformadores recuperaram na Reforma.
Claro que alguns cristãos ainda são chamados para
ser pastores, e na Igreja Anglicana alguns pastores são chamados “sacerdotes”.
Mas não porque nos esquecemos da herança reformada e defendemos um papel
sacerdotal negado aos leigos. E apenas porque a palavra priest
(sacerdote) é uma contração de presbyter (presbítero, ancião) e não tem
conotação sacerdotal. Essa é a razão pela qual os anglicanos do século 17
mantiveram a palavra sacerdote no Livro Comum de Oração. No entanto,
isso pode ser confuso e admiro a sabedoria dos líderes da igreja do Sul da
índia e da Igreja do Paquistão por nomearem as três ordens ministeriais como
“bispos, presbíteros e diáconos”.
Por que, então, os discípulos cristãos são
chamados “sacerdócio santo”? Pedro nos diz no versículo 5:
Sois edificados casa espiritual para serdes
sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus
por intermédio de Jesus Cristo.
Assim, somos sacerdotes santos chamados para
cultuar a Deus. Mas isso é tudo? Será que a igreja deve ser uma espécie de
gueto espiritual? Devemos ficar absortos em nossa vida interior? Será que
nossos únicos deveres são o crescimento espiritual (como bebês), a comunhão
(como pedras em um prédio) e o culto (oferecendo a Deus os sacrifícios
espirituais do nosso louvor)? E o mundo perdido e solitário? Não nos importamos
com ele?
Povo de Deus
Tais perguntas nos levam aos versículos 9 e 10,
nos quais Pedro desenvolve uma quarta metáfora: “Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”.
Aqui o apóstolo compara a igreja a uma nação ou
povo; de fato, a propriedade exclusiva de
Deus. O fascinante nessas expressões é a origem delas. Pedro não as
inventou, mas encontrou-as em Êxodo 19.5-6, quando Deus diz ao povo de Israel,
que tinha acabado de ser redimido do Egito, que se eles mantivessem seu pacto,
obedecendo aos mandamentos, seriam sua propriedade mais rica (sêgitllâ),
sua nação escolhida de entre todas as nações da terra, uma nação santa.
Em sua carta, e com uma ousadia concedida pelo
Espírito Santo, Pedro pega as palavras de Êxodo, que haviam sido aplicadas a
Israel, e as aplica à comunidade cristã. “Vocês, seguidores de Jesus”, diz ele
a nós hoje, “são o que Israel era – uma nação santa, apesar de agora serem uma
nação internacional”.
Mas por que Deus escolheu Israel? E por que ele nos
escolheu? Não foi por favoritismo, mas com o objetivo de sermos suas testemunhas; não para desfrutarmos de um
monopólio do evangelho, mas para que possamos declarar “as virtudes (ou
excelências, ou poderosos feitos) daquele que nos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz”.
Pois de uma vez por todas, continua Pedro,
fazendo referência ao livro de Oseias:
Não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus,
que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.
Vocês estavam em trevas, mas agora estão em sua maravilhosa luz.
Agora, portanto, não podemos guardar essas
bênçãos só para nós.
Estrangeiros
Até aqui Pedro nos compara a:
– Bebês recém-nascidos, com o dever de crescer
– Pedras vivas, com o dever da comunhão
– Sacerdotes santos, com o dever de cultuar
– Povo do próprio Deus, com o dever de
testemunhar
Pedro tem mais duas metáforas, e com o versículo
11 ele apresenta a quinta: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e
forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra
contra a alma”. As palavras gregas são interessantes. “Forasteiro” é aquele que
não tem direitos no lugar onde vive; “peregrino” é aquele que não tem lar.
Por que Pedro descreve seus leitores assim? Em
parte, porque é o que eles eram, literalmente. Eles pertenciam ao que era
conhecido por “diáspora” (1Pedro 1.1) e estavam espa- lhados por todo o Império
Romano, em especial pelas cinco províncias do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e
Bitínia (atual Turquia). Mas também porque essas palavras simbolizavam a
condição espiritual deles. Agora que eles haviam nascido de novo no reino de
Deus, haviam se tornado, de certa forma, “peregrinos e forasteiros na terra”.
Portanto, eles agora eram cidadãos de dois países. E por sua cidadania original
ser o céu, eles eram chamados à santidade.
Esse conceito de uma “cidadania” santa e
celestial é uma verdade perigosa, pois pode ser facilmente distorcida. De fato,
ela tem sido frequentemente mal utilizada e tem se tornado uma desculpa para
não desempenharmos nossas responsabilidades terrenas. Karl Marx não está
totalmente equivocado ao afirmar que a religião é “o ópio do povo” –
entorpecendo-o para condescender às injustiças do status quo, ao mesmo
tempo em que promete justiça no mundo por vir.
Porém, Pedro é cuidadoso em evitar essa
distorção. Ele parte da referência à nossa condição de peregrinos e vai direto
para os nossos deveres de cidadania na terra. Em breve discutiremos mais a esse
respeito.
Servos
Na sexta ilustração, Pedro descreve os discípulos
como servos conscientes de Deus (1Pedro 2.12-17). Ele incentiva os
leitores a viver de tal forma entre os pagãos que eles possam ver suas boas
obras, a submeter-se às autoridades seculares, a fazer o bem e assim calar a
voz ignorante dos tolos, a viver como povo livre, sem fazer mau uso da
liberdade, mas vivendo como servos de Deus, e a mostrar respeito para com
todos: os irmãos na fé, Deus e as autoridades.
No entanto, apesar de todas essas tarefas
terrenas como cidadãos conscientes, submeter-se às autoridades, silenciar as
críticas, fazer o bem, respeitar a todos,
– Ainda pertencemos ao céu!
– Somos estrangeiros e exilados na terra.
– Somos peregrinos voltando para o lar, para
Deus.
Esse fato (nossa cidadania celestial) desafia
profundamente nossas atitudes para com o dinheiro e os bens (pois vemos a vida
como uma peregrinação entre dois momentos de nudez), para com as tragédias e o
sofrimento (pois os vemos sob a perspectiva da eternidade), e, especialmente,
para com a tentação e o pecado.
O versículo 11 mostra um contraste entre “paixões
carnais” e “alma”. Nossa alma está a caminho de um encontro com Deus. Assim,
devemos nos abster de tudo que possa se tornar um obstáculo ao seu progresso, e
devemos viver vidas santas em preparação para a santa presença de Deus no céu.
Equilíbrio
Alguns devem se perguntar por que intitulei este
capítulo “Equilíbrio”. A razão deve ficar clara agora. Seguimos Pedro nas seis
ilustrações que se completam para descrever o que é um discípulo. Aqui estão
elas novamente:
– Como crianças recém-nascidas, somos chamados a
crescer;
– Como pedras vivas, somos chamados à comunhão;
– Como sacerdotes santos, somos chamados à
adoração;
– Como povo de propriedade de Deus, somos
chamados ao testemunho;
– Como estrangeiros e peregrinos, somos chamados
à santidade;
– Como servos de Deus, somos chamados à
cidadania.
Essa é uma descrição maravilhosamente abrangente
e equilibrada. Essas seis responsabilidades parecem se organizar em três pares,
cada um apresentando um equilíbrio.
Em primeiro lugar, somos chamados tanto para o
discipulado individual quanto para a comunhão corporativa. Bebês, apesar de
nascerem numa família, têm sua identidade própria. Até os gêmeos nascem
separados! Porém, a função fundamental das pedras usadas em construção é ser
parte de alguma coisa. Elas cederam sua individualidade ao prédio. Sua
importância não está nelas mesmas, mas no conjunto. Então, precisamos enfatizar
tanto as nossas responsabilidades individuais quanto as corporativas.
Em segundo lugar, somos chamados tanto para
adorar quanto para trabalhar. Como sacerdócio, nós adoramos a Deus. Como povo
de propriedade de Deus, testemunhamos ao mundo. A igreja é uma comunidade de
adoração e testemunho.
Em terceiro lugar, somos chamados tanto para a
peregrinação quanto para a cidadania.
Em cada par, somos chamados ao equilíbrio e não à
ênfase de um em detrimento do outro. Assim, somos tanto discípulos individuais
quanto membros da igreja, tanto adoradores quanto testemunhas, tanto peregrinos
quanto cidadãos.
A razão de quase todas as nossas falhas é a
facilidade que temos de esquecer nossa identidade como discípulos. Nosso Pai
Celestial está constantemente nos dizendo o que o Rei George 5 sempre dizia ao
Príncipe de Gales: “Meu filho querido, você deve sempre se lembrar de quem você
é, pois se você se lembrar de sua identidade, se comportará de acordo com ela”.
John Robert Walmsley Stott *
*Capítulo 6 extraído do O discípulo radical, Editora Ultimato.
Medio tutissimus ibis.
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