sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dubitare

Não tinha certeza. Nunca teve certeza. Jamais teve certeza sobre qualquer coisa.
Certeza de nada. De nada ele tinha certeza.
Seria exagero chamá-lo de “sujeito sem certezas”. Afinal, tinha algumas.
Tinha certeza de nada. Tinha certeza da incerteza. E, tinha a certeza mais absoluta da dúvida.
Nunca sabia se estava certo. Ou errado...
Nunca sabia se era certo. Ou errado...
Haviam nada, dúvida e incerteza.
Não tinha medo. Não tinha coragem. Não tinha muito. Nem pouco. Ora, muito era pouco e pouco era muito, e isso confundia, criando mais incerteza e dúvida.
Nada tinha nada. E nada parecia ser bom, ou ter nada ou ser nada ou estar no nada. Às vezes. Só às vezes.
O pior da incerteza era nunca saber. Vive-se e não sabe.
Certeza? Certeza de que?
Certeza de que bananeiras dão bananas, macieiras dão maçãs e que batatinha quando nasce se esparrama pelo chão.
A incerteza da escolha.
A dúvida na escolha.
A escolha do nada.
A renúncia do nada.
A dúvida da renúncia.
A incerteza na renúncia.
Certo de que nada, incerteza e dúvida eram as suas certezas, teve convicção de que, não estava certo sobre isso.
O divagar. O devaneio. A teoria. A interrogação.
Por ter dúvida, duvidava.
Por ter incerteza, não ia. Nem vinha.
Por saber nada, morria.
Cego: e pensava enxergar. Não via um palmo à frente do nariz.
Surdo: só ouvia nada. E havia eco no silêncio do nada.
Mudo: com a incerteza e a dúvida, optara por não mais falar. Degustara a língua, o idioma e as canções.
Caminhava incerto com sua dúvida rumo à nada.
Na longa caminhada, se perdera...
No caminho escolhido, morrera...
A incerteza e a dúvida permaneceram ao seu lado até o último suspiro.
Nada também estava lá. Lá estava ele no nada.
Tinha vida e não sabia.
A certeza da incerteza fez com que a dúvida o asfixiasse no nada.
Vivera. Morrera. E nunca teve certeza.

Rovan Berto
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Medio tutissimus ibis.

*Dedicado à certeza que fiz incerteza porque a dúvida me enganou com nada.

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