sábado, 15 de março de 2014

Cinco lições práticas de como não ser um babaca


Ninguém ainda no mundo atingiu proficiência nesse assunto, mas você será um babaca se não tentar.

Eu bem que tentei pedir aos caridosos editores (...) que me permitissem publicar um powerpoint em vez de escrever esta coluna em prosa; outro formato rejeitado foi escrever numa porta de banheiro e depois fotografar.
Eu gostaria de escrever em bullet points, clicar e arrastar. Com o dedo numa tela sensível ao toque? Bom, não vai acontecer. Então, vai assim mesmo.
1. NÃO LIGUE CASO VOCÊ ESTEJA SENDO UM BABACA. Pode parecer contraproducente, mas funciona com mais chances de sucesso do que você poderia imaginar. A maioria das bobagens que a gente faz é em nome de esconder outras bobagens que a gente já fez. A tolerância é muito mais indicada neste caso. Já que a besteira nasceu, deixe viver. Consertá-la é tão danoso para quem fala quanto explicar uma piada que saiu torta.
3. NÃO SEJA UM BABACA. Você deve ter reparado que subi a terceira lição para a segunda posição. Questão de urgência. Vamos ser práticos: para não ser babaca, o melhor mesmo é evitar ser babaca. Uma analogia mais ou menos correta: se você não quer se molhar, evite colocar a mão em qualquer substância apresentada em enorme quantidade que tenha grandes concentrações da molécula com dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Você vai se molhar.
5. TENHA AMIGOS. Esta é a maior de todas. Amigos: tenham amigos. Caras que batam no seu ombro para dizer: rapaz, não. Corri para a última lição porque, de repente, percebi que era a mais importante. Então é isso: tenha um amigo. Não sei a definição dos nossos grandes filólogos para a palavra, mas vivendo percebi que amigo é aquele cara que diz assim: “Você está sendo um grande babaca”. Tenha por perto gente que diga esta frase para você. Se for difícil de lembrar nestes dias de celulares sensíveis ao toque, vou repetir para você poder começar a meter a tesoura aqui: “AMIGO É O CARA QUE DIZ: ‘VOCÊ ESTÁ SENDO UM GRANDE BABACA’”. Peço aos amigos da arte (...) que consigam colocar esta frase dentro de um daqueles quadradinhos pontilhados para que você, leitor, (...) deixe na carteira. Se der para coincidir que na parte de trás (...) ache espaço para escrever “IMPORTANTE!” em letras vermelhas, eu agradeço. A ver.
3. JÁ FOI.
2. DUVIDE DE QUEM DIZ QUE VOCÊ É UM BABACA.
Os bichos mais propensos em acreditar no que os outros dizem sobre ele são o ser humano e o outro ser humano que está do lado dele. Não acredite. Você precisa ter convicção do que está fazendo, não é? Senão, vira bagunça! Duvide dessa turma que fica achando defeito em tudo. Você apareceu pelado na rua, vestido só com um lençol, prevendo o fim do mundo? Normal. Você fez cocô no capô do carro do tio que roubou todo o dinheiro da herança do seu avô? Parabéns. Babaca é a sua mãe. (Retoricamente, não que eu esteja acusando sua avó de ser babaca etc.)
4. SEJA MENOS PRETENSIOSO. Acho que esta é a única regra (este é um presente pra você, leitor incansável). Seja menos pretensioso. Se seus amigos não dizem isso, então você não tem amigos. Nós, infelizmente, somos animais que nascemos sem pedaço. Tem duas coisas que cabem neste espaço vazio: uma é a adulação dos outros, droga que tem uma meia vida menor que a do crack. A outra é o amor. Só o amor. Obrigado, de nada.

Marcelo Zorzanelli
 
 
Medio tutissimus ibis.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Perfeição


Quando nasci, mamãe disse: Ele é perfeito! Grande equívoco. Bastava ver que eu era careca! Crescendo-me cabelo, percebi que eu era banguela. Nascendo-me os dentes... Percebi que não sabia andar. Aprendendo a andar... Percebi que ainda não falava. Falando... Quero Coca! Percebi que era analfabeto: Mãe, lê o gibi pra mim? Alfabetizado, percebi que eu era pequeno.  Cresci, e percebi que era boca virgem.  Beijei... Mas não namorei. Percebi que era feio. Cuidei da beleza e percebi que era magrelo. Corri pra academia, e fiquei bombadinho. Percebi que eu era burro... Fiz faculdade e percebi que se não trabalhasse, continuaria pobre. Trabalhei muito... E me vi solteirão. Casei, e percebi que não tinha herdeiros. Tendo filhos, percebi que teria que trabalhar mais ainda. E não teria sossego até que me aposentasse. Aposentado, me vi inválido. Morri... E percebi que passei a vida inteira tentando deixar de ser o que eu era... E acabei não sendo NADA.
Caio Godoy

Medio tutissimus ibis.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

in·ten·to


“Levar uma vida que tenha a ver com seus valores e satisfaça a sua alma é algo raro. Nessa cultura que martela sem dó que a vida perfeita é cobiça e excesso... a pessoa satisfeita em fazer apenas o que gosta é considerada excêntrica, quando não subversiva. Só entende-se a ambição quando ela é um degrau em uma escada fictícia para o sucesso.
Quem fica em um emprego que exige pouco só porque deixa tempo para dar vazão a outros interesses, fazer outras coisas... é visto como fracassado.
Quem abandona a carreira para ficar em casa e criar os filhos é visto como alguém que não exerce seu potencial. Como se cargo e salário fossem a única medida do homem.
Você vai ouvir de mil maneiras, algumas sutis, outras nem tanto, que precisa continuar subindo... e nunca ficar satisfeito com sua posição, nem com o que faz, nem com quem você é.
Existem milhões de maneiras de se vender... e eu garanto que você ficará sabendo de todas.
Criar um sentido para sua vida não é fácil... mas ainda é permitido... e eu acredito que o esforço trará felicidade.”
Bill Watterson

Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Equilíbrio



O antigo Duque de Windsor, que por um curto período de tempo foi o Rei Eduardo 8, morreu em Paris em maio de 1972. Naquela noite, um interessante documentário foi apresentado na televisão britânica. Incluía partes extraídas de filmes que mostravam Eduardo 8 sendo questionado a respeito de sua educação, seu breve reinado e sua abdicação.
Lembrando-se de seu passado, ele disse: “Meu pai [o rei George 5] foi um rígido disciplinador. Quando eu fazia algo errado, ele às vezes me advertia dizendo: ‘Meu querido menino, você deve sempre se lembrar de quem é’”. Se ele apenas se lembrasse de que era um príncipe real destinado ao trono, não se comportaria de forma inadequada.
A pergunta é: quem somos nós? E não há no Novo Testamento um texto que apresente um registro mais variado e equilibrado do que significa ser um discípulo do que 1Pedro 2.1-17:
Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso.
Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura
Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa.
São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos. Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.
Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.
Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei.
Em uma série de metáforas variadas, o apóstolo ilustra quem somos nós. Cada uma delas carrega consigo uma obrigação correspondente. Juntas elas podem ser chamadas cristianismo, de acordo com Pedro.

Bebês
Pedro compara seus leitores a bebês recém-nascidos porque eles nasceram de novo (1Pedro 1.23). Mas o que é o novo nascimento? Dizer que é o que acontece quando somos batizados como membros da igreja é um erro. De fato, o batismo é o sacramento do novo nascimento. Isto é, ele é uma dramatização externa e visível do novo nascimento. Porém, não devemos confundir o símbolo com a realidade, ou a placa com o que é representado.
O novo nascimento é uma mudança profunda, interior e radical, realizada pelo Espírito Santo em nossa personalidade humana, que nos concede um novo coração e uma nova vida e rios faz uma nova criatura. Além do mais, como Jesus afirmou em sua conversa com Nicodemos, ele é indispensável. “Importa-vos nascer de novo” (João 3.7), disse ele.
O problema é que não emergimos do novo nascimento com o entendimento e o caráter de um cristão maduro, nem com asas angelicais totalmente desenvolvidas (!), mas, em vez disso, “como crianças recém-nascidas” – fracas, imaturas, vulneráveis e, acima de tudo, precisando crescer. E por isso que o Novo Testamento fala da necessidade de crescer em conhecimento, santidade, fé, amor e esperança. Assim, Pedro escreve que seus leitores devem “crescer” em sua salvação (v. 2). Isso quer dizer que eles devem se desfazer de “toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências” (v. 1), pois (deduz ele) essas coisas são infantis. Então devemos deixá-las e crescer na semelhança com Cristo.
Porém, como devemos crescer? Tendo em mente a figura de um bebê recém-nascido, observamos no versículo 2 a referência de Pedro ao “genuíno leite espiritual”: “Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação”.
Em outras palavras, assim como, para uma criança, o segredo do crescimento saudável é a regularidade de uma dieta correta, a alimentação diária e disciplinada é a principal condição para o crescimento espiritual.
Então que leite devemos consumir para crescer em maturidade cristã? De acordo com a Bíblia Almeida Revista e Atualizada, é o “genuíno leite espiritual”. O adjetivo grego é logikos. Essa palavra pode ter o significado literal de “metafísico”, oposto ao leite da vaca, ou “racional”, que quer dizer alimento para a mente e para o corpo, ou “a palavra de Deus”, como em 1Pedro 1.23. A Palavra de Deus certamente é tão indispensável para o nosso crescimento espiritual quanto o leite materno o é para o crescimento do bebê. “Deseje-o ardentemente”, incentiva Pedro, “se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso” (1Pedro 2.3). O teólogo Edward Gordon Selwyn, em seu comentário, sugere que Pedro tem em mente “o entusiasmo de uma criança amamentada”. Pedro parece dizer: “Vocês já provaram, agora saciem-se”.
Na vida cristã a disciplina diária é uma profunda necessidade. William Temple, arcebispo de Canterbury durante a Segunda Guerra Mundial, disse para uma multidão de jovens:
A lealdade dos jovens cristãos deve ser primeira e principalmente ao próprio Cristo. Nada pode tomar o lugar do tempo diário de comunhão íntima com o Senhor [...]. De alguma forma, encontre tempo para isso e assegure-se de que é uma experiência verdadeira.

Pedras
A segunda metáfora que Pedro apresenta é a de pedras vivas (1Pedro 2.4-8). Ele sai do mundo da biologia (nascimento e crescimento) e vai para o mundo da arquitetura (pedras e construções). Estivemos na enfermaria de uma maternidade observando um recém-nascido ter sede de leite; agora, vamos observar um prédio em construção. Ele é feito de pedras e não temos dificuldade de reconhecer que é uma igreja. Não o tipo de prédio ao qual damos o nome de igreja hoje, mas a Igreja do Deus vivente, o povo de Deus. Como as pedras na construção são pessoas, Pedro as chama “pedras que vivem”.
E importante nos alegrarmos ao perceber que Deus está construindo a sua igreja ao redor do mundo. Pode ser que algumas religiões (antigas e modernas) vivenciem um renascimento, pode ser que o secularismo invada a igreja do Ocidente, e pode ser que grupos e governos hostis persigam a igreja e ela seja forçada a se esconder. No entanto, a igreja continua crescendo.
Na verdade, nada pode destruir a igreja de Deus. Jesus prometeu que as “portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16.18). Isto é, a igreja tem um destino eterno. Ela é indestrutível. O prédio cresce pedra por pedra, até que um dia a cumeeira é colocada no lugar e a construção está completa.
Como, então, nos unimos à igreja? Ingressamos na expressão visível, externa da igreja pelo batismo. Mas como nos tornamos parte do povo de Deus? Observe 1Pedro 2.4: “Chegando-vos para ele”, para a Pedra Viva, isto é, Jesus Cristo, rejeitado pelos homens, mas precioso para Deus, e sendo edificados como casa espiritual. Nos versículos 6-8, Pedro reúne uma série de textos do Antigo Testamento (de Jeremias e dos Salmos) sobre pedras e rochas. Significativamente, ele as aplica a Cristo, não a si próprio. Pois Pedro não é a rocha na qual edificamos nossa vida: Cristo é a Pedra Viva, rejeitado por Israel, mas escolhido por Deus e precioso para ele.
A implicação disso é que certamente somos membros uns dos outros. Se os bebês precisam de leite para crescer, as pedras precisam de argamassa para se ligarem mutuamente. Imagine um prédio. Cada pedra é cimentada às outras e assim se torna parte da construção. Nenhuma delas fica suspensa no ar. Todas pertencem ao prédio e não podem ser retiradas dele.
Refletindo sobre isso, apliquemos o ensino de Pedro a nós mesmos. O que Jesus Cristo significa para nós? Ele é uma pedra de tropeço na qual esfolamos a canela e caímos? Ou é a pedra fundamental sobre a qual estamos construindo a vida?
Alguns anos atrás tive a oportunidade de me encontrar e conversar com Hobart Mowrer, professor emérito de psiquiatria da Universidade de Illinois e na época alguém muito conhecido. Ele não era cristão e me disse ter tido uma briga com a igreja. Segundo Mowrer, a igreja havia falhado com ele em sua juventude e continuava falhando com seus pacientes. E acrescentou: “A igreja nunca aprendeu o segredo de comunidade”. Essa é uma das críticas mais condenatórias à igreja que já ouvi. Pois a igreja é comunidade, pedras vivas no prédio de Deus.
Precisamos resgatar a visão comunitária da igreja, das pedras que vivem no prédio de Deus. Além do mais, é preciso uma argamassa da melhor qualidade.

Sacerdotes
Até aqui, Pedro nos comparou a recém-nascidos, cujo dever é crescer, e a pedras vivas, cujo dever é amar e apoiar-se mutuamente. Agora ele chega à terceira metáfora e nos compara a sacerdotes santos, cujo dever é adorar a Deus.
Para muitos cristãos, tal metáfora causa surpresa e até mesmo choque. Apesar disso, não podemos ignorá-la. Pedro escreve que Deus nos fez tanto “sacerdócio santo” (v. 5) como “sacerdócio real” (v. 9). O que o apóstolo quer dizer?
Na época do Antigo Testamento, os sacerdotes israelitas possuíam dois privilégios. Primeiro, eles desfrutavam do acesso a Deus. O Templo de Herodes era rodeado pelo átrio dos sacerdotes, de onde o povo era rigorosamente excluído. Apenas os sacerdotes tinham permissão para entrar no templo, e somente o sumo sacerdote podia entra no santo dos santos ou santuário interno – e apenas no dia da propiciação. Para salientar, a lei prescrevia a pena de morte para todos os intrusos. Isso significa que o acesso a Deus era restrito ao sacerdócio e negado ao povo.
O segundo privilégio era o oferecimento de sacrifícios a Deus. O povo trazia os sacrifícios e impunha as mãos sobre a cabeça das vítimas, tanto para se identificar com elas quanto para transferir, simbolicamente, a culpa. Porém, só os sacerdotes tinham permissão para matar os animais para o sacrifício, cumprir o ritual e aspergir o sangue.
Na época do Antigo Testamento, o acesso e o sacrifício eram os dois privilégios reservados estritamente ao sacerdócio.
Porém, atualmente, e por meio de Jesus Cristo, essa distinção entre sacerdote e povo foi abolida. Os privilégios que antes eram limitados aos sacerdotes agora são compartilhados por todos, pois todos são sacerdotes. Toda a igreja é um sacerdócio. Por intermédio de Cristo, todos nós gozamos do acesso a Deus (temos ousadia para entrar na santa presença de Deus, Hebreus 10.19-22). Por meio de Cristo, todos nós oferecemos a Deus os sacrifícios espirituais da nossa adoração. Esse é o “sacerdócio universal dos cristãos”, que os reformadores recuperaram na Reforma.
Claro que alguns cristãos ainda são chamados para ser pastores, e na Igreja Anglicana alguns pastores são chamados “sacerdotes”. Mas não porque nos esquecemos da herança reformada e defendemos um papel sacerdotal negado aos leigos. E apenas porque a palavra priest (sacerdote) é uma contração de presbyter (presbítero, ancião) e não tem conotação sacerdotal. Essa é a razão pela qual os anglicanos do século 17 mantiveram a palavra sacerdote no Livro Comum de Oração. No entanto, isso pode ser confuso e admiro a sabedoria dos líderes da igreja do Sul da índia e da Igreja do Paquistão por nomearem as três ordens ministeriais como “bispos, presbíteros e diáconos”.
Por que, então, os discípulos cristãos são chamados “sacerdócio santo”? Pedro nos diz no versículo 5:
Sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.
Assim, somos sacerdotes santos chamados para cultuar a Deus. Mas isso é tudo? Será que a igreja deve ser uma espécie de gueto espiritual? Devemos ficar absortos em nossa vida interior? Será que nossos únicos deveres são o crescimento espiritual (como bebês), a comunhão (como pedras em um prédio) e o culto (oferecendo a Deus os sacrifícios espirituais do nosso louvor)? E o mundo perdido e solitário? Não nos importamos com ele?

Povo de Deus
Tais perguntas nos levam aos versículos 9 e 10, nos quais Pedro desenvolve uma quarta metáfora: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”.
Aqui o apóstolo compara a igreja a uma nação ou povo; de fato, a propriedade exclusiva de Deus. O fascinante nessas expressões é a origem delas. Pedro não as inventou, mas encontrou-as em Êxodo 19.5-6, quando Deus diz ao povo de Israel, que tinha acabado de ser redimido do Egito, que se eles mantivessem seu pacto, obedecendo aos mandamentos, seriam sua propriedade mais rica (sêgitllâ), sua nação escolhida de entre todas as nações da terra, uma nação santa.
Em sua carta, e com uma ousadia concedida pelo Espírito Santo, Pedro pega as palavras de Êxodo, que haviam sido aplicadas a Israel, e as aplica à comunidade cristã. “Vocês, seguidores de Jesus”, diz ele a nós hoje, “são o que Israel era – uma nação santa, apesar de agora serem uma nação internacional”.
Mas por que Deus escolheu Israel? E por que ele nos escolheu? Não foi por favoritismo, mas com o objetivo de sermos suas testemunhas; não para desfrutarmos de um monopólio do evangelho, mas para que possamos declarar “as virtudes (ou excelências, ou poderosos feitos) daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
Pois de uma vez por todas, continua Pedro, fazendo referência ao livro de Oseias:
Não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia. Vocês estavam em trevas, mas agora estão em sua maravilhosa luz.
Agora, portanto, não podemos guardar essas bênçãos só para nós.

Estrangeiros
Até aqui Pedro nos compara a:
– Bebês recém-nascidos, com o dever de crescer
– Pedras vivas, com o dever da comunhão
– Sacerdotes santos, com o dever de cultuar
– Povo do próprio Deus, com o dever de testemunhar
Pedro tem mais duas metáforas, e com o versículo 11 ele apresenta a quinta: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma”. As palavras gregas são interessantes. “Forasteiro” é aquele que não tem direitos no lugar onde vive; “peregrino” é aquele que não tem lar.
Por que Pedro descreve seus leitores assim? Em parte, porque é o que eles eram, literalmente. Eles pertenciam ao que era conhecido por “diáspora” (1Pedro 1.1) e estavam espa- lhados por todo o Império Romano, em especial pelas cinco províncias do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (atual Turquia). Mas também porque essas palavras simbolizavam a condição espiritual deles. Agora que eles haviam nascido de novo no reino de Deus, haviam se tornado, de certa forma, “peregrinos e forasteiros na terra”. Portanto, eles agora eram cidadãos de dois países. E por sua cidadania original ser o céu, eles eram chamados à santidade.
Esse conceito de uma “cidadania” santa e celestial é uma verdade perigosa, pois pode ser facilmente distorcida. De fato, ela tem sido frequentemente mal utilizada e tem se tornado uma desculpa para não desempenharmos nossas responsabilidades terrenas. Karl Marx não está totalmente equivocado ao afirmar que a religião é “o ópio do povo” – entorpecendo-o para condescender às injustiças do status quo, ao mesmo tempo em que promete justiça no mundo por vir.
Porém, Pedro é cuidadoso em evitar essa distorção. Ele parte da referência à nossa condição de peregrinos e vai direto para os nossos deveres de cidadania na terra. Em breve discutiremos mais a esse respeito.

Servos
Na sexta ilustração, Pedro descreve os discípulos como servos conscientes de Deus (1Pedro 2.12-17). Ele incentiva os leitores a viver de tal forma entre os pagãos que eles possam ver suas boas obras, a submeter-se às autoridades seculares, a fazer o bem e assim calar a voz ignorante dos tolos, a viver como povo livre, sem fazer mau uso da liberdade, mas vivendo como servos de Deus, e a mostrar respeito para com todos: os irmãos na fé, Deus e as autoridades.
No entanto, apesar de todas essas tarefas terrenas como cidadãos conscientes, submeter-se às autoridades, silenciar as críticas, fazer o bem, respeitar a todos,
– Ainda pertencemos ao céu!
– Somos estrangeiros e exilados na terra.
– Somos peregrinos voltando para o lar, para Deus.
Esse fato (nossa cidadania celestial) desafia profundamente nossas atitudes para com o dinheiro e os bens (pois vemos a vida como uma peregrinação entre dois momentos de nudez), para com as tragédias e o sofrimento (pois os vemos sob a perspectiva da eternidade), e, especialmente, para com a tentação e o pecado.
O versículo 11 mostra um contraste entre “paixões carnais” e “alma”. Nossa alma está a caminho de um encontro com Deus. Assim, devemos nos abster de tudo que possa se tornar um obstáculo ao seu progresso, e devemos viver vidas santas em preparação para a santa presença de Deus no céu.

Equilíbrio
Alguns devem se perguntar por que intitulei este capítulo “Equilíbrio”. A razão deve ficar clara agora. Seguimos Pedro nas seis ilustrações que se completam para descrever o que é um discípulo. Aqui estão elas novamente:
– Como crianças recém-nascidas, somos chamados a crescer;
– Como pedras vivas, somos chamados à comunhão;
– Como sacerdotes santos, somos chamados à adoração;
– Como povo de propriedade de Deus, somos chamados ao testemunho;
– Como estrangeiros e peregrinos, somos chamados à santidade;
– Como servos de Deus, somos chamados à cidadania.
Essa é uma descrição maravilhosamente abrangente e equilibrada. Essas seis responsabilidades parecem se organizar em três pares, cada um apresentando um equilíbrio.
Em primeiro lugar, somos chamados tanto para o discipulado individual quanto para a comunhão corporativa. Bebês, apesar de nascerem numa família, têm sua identidade própria. Até os gêmeos nascem separados! Porém, a função fundamental das pedras usadas em construção é ser parte de alguma coisa. Elas cederam sua individualidade ao prédio. Sua importância não está nelas mesmas, mas no conjunto. Então, precisamos enfatizar tanto as nossas responsabilidades individuais quanto as corporativas.
Em segundo lugar, somos chamados tanto para adorar quanto para trabalhar. Como sacerdócio, nós adoramos a Deus. Como povo de propriedade de Deus, testemunhamos ao mundo. A igreja é uma comunidade de adoração e testemunho.
Em terceiro lugar, somos chamados tanto para a peregrinação quanto para a cidadania.
Em cada par, somos chamados ao equilíbrio e não à ênfase de um em detrimento do outro. Assim, somos tanto discípulos individuais quanto membros da igreja, tanto adoradores quanto testemunhas, tanto peregrinos quanto cidadãos.
A razão de quase todas as nossas falhas é a facilidade que temos de esquecer nossa identidade como discípulos. Nosso Pai Celestial está constantemente nos dizendo o que o Rei George 5 sempre dizia ao Príncipe de Gales: “Meu filho querido, você deve sempre se lembrar de quem você é, pois se você se lembrar de sua identidade, se comportará de acordo com ela”.
John Robert Walmsley Stott *

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*Capítulo 6 extraído do O discípulo radical, Editora Ultimato.

Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Como se fosse balanço





“Lá se foi a primeira metade do ano, e já estamos folgados na segunda metade. Agosto continua o quê? Julho deu para balanço? Você fez alguma coisa do que planejava fazer neste ano? Claro que não. Fez, no máximo, aquilo que deixaram ou quiseram que você fizesse. Sempre assim, e você já devia estar habituado. Como, aliás, está. Ou não? Por favor, não me venha com essa cara de inconformado de nascença. Já é do seu conhecimento, há muitas centenas de meses, que lhe cabe assistir a um espetáculo de que você, ao mesmo tempo, é comparsa mínimo. Espectador dos outros e de si mesmo: curiosa situação, né? A de tanta gente. Nem exceção você é. Não se envaideça. Não se melancolize.
É isso aí: dão-lhe o direito de fazer planos. Reservam-lhe, até quadra especial para isso. Não assumem, porém, o compromisso de deixar que você os execute. Mas podia ser de outro modo? Pense na barafunda que resultaria da realização simultânea (e conflitante) de todos os planos individuais. Cada um com seu esquema, sua quimera: a explosão disso tudo, hem? Se preferir, bote a culpa nas estruturas e infraestruturas, nos sistemas, no acaso, na sorte, em Deus. Poderes que impedem você de poder. Que podem por você.
Aí está uma confortadora transferência de responsabilidade. Deixassem você solto, agindo, era aquela beleza. Vertigem boa: pensar em possíveis e impossíveis. No fundo, meu prezado, você tem é vocação para Deus. Mas o lugar está preenchido. À vista da frustração, só lhe resta ser um de seus (in)fiéis. Mas assim como é dificílimo ser Deus, não é nada maneiro submeter-se à sua jurisdição. O código de proibições e obediências estica-se por mil volumes. A vida inteira não dá para a leitura. E a letra é tão miudinha!
Em casa, na rua, no hospital, no espaço, em pensamento, você está sempre obedecendo a um parágrafo visível ou implícito. Ou o transgredindo. O sinal luminoso do cruzamento é muito mais do que sinal luminoso: é sentença de morte, caso você não lhe dê a atenção exigida. Ou mesmo dando. O menor carimbo pressupõe regras invioláveis de conduta.
O jogo da vida consiste, em parte, no estudo de como violá-las, simulando reverência.
Você esperneia, revolta-se – adianta? Mesmo sua revolta foi protocolada. O caso da maçã estava previsto. A serpente estava prevista. Prevista, a expulsão do Paraíso. A lição de alguns autores é que o Paraíso foi criado exatamente para o homem experimentar-lhe a privação. Da qual resultariam invenções, técnicas de compensação, poemas, sinfonias. Mas há também quem ache isso fábula de amor cinzento, descambando para o negro.
Acomodar-se, então, seria a receita? A razão estará com a minoria selecionada dos quietistas? Ou o caminho que eles encontraram é demasiado simplório para ser um caminho, e, em vez de conduzir à solução, gira em redor do problema, acentuando a insolubilidade?
Devaneios. Como você devaneia, irmão! Quer ser e não ser, sendo. Imagina o vazio, com a sua pessoinha lá dentro, escondida, resguardada, a se divertir com a imperícia dos outros, que vão aos trambolhões, expostos a chuva, granizo, fogo.
Como se você também não participasse desse existir precário, de que só algumas ressonâncias chegam à publicidade, em situações-limite. Existir que, por ser universal, tem força de regra, torna-se normalidade. Escusa de dar balanço, ou antes, balancete, nesta parte carcomida do ano. Os erros são justificáveis, de uma forma ou de outra. É, não deu.
Os acertos, porque involuntários, o são menos. Não dependeram de você, confesse. De certo, que foi que dependeu de você: as marés, o câmbio, o desencontro das nações, a briga dos namorados, o amor revelado, a distensão, a enchente, a qualidade da vida?
Pense em outra coisa. Não impede que você reelabore planos para o restante do ano e até para o ano que vem. Esporte como outro qualquer.
Experimente agosto. Voltam às aulas, os horários. Experimente (sempre) viver.”
Carlos Drummond de Andrade


Medio tutissimus ibis.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Profissão de fé


1.
Acreditamos que através de nossas coleções e campanhas mudaremos o mundo.

2.
Acreditamos que somos uma empresa de comunicação que usa a roupa como mídia para disseminar nossas causas. Por isso dizemos que não fazemos roupas, fazemos barulho.

3.
Acreditamos em carboidratos e açúcares e danem-se as consequências!

4.
Achamos o minimalismo chato.

5.
Acreditamos que nossos times são vencedores de prêmios, mesmo sem necessariamente terem ganho algum.

6.
Acreditamos que ter paixão e verdade naquilo que se faz é a alma do negócio.

7.
Acreditamos na despretensão. O protagonista não deve ser a roupa que desenhamos e sim aquele que a usa.

8.
Acreditamos que ser chique é ser feliz.

9.
Acreditamos que ter estilo é modo de agir e não de se vestir.

10.
Acreditamos que somos todos nós, juntos, loucos e apaixonados, a Reserva.


Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Decisão


“Uma decisão errada é melhor que a indecisão.”
Tony Soprano


Medio tutissimus ibis.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ubuntu


Sobre a natureza da comunidade humana

A estatura de Desmond Tutu como um modelo de tolerância e inclusão dentre os líderes religiosos internacionais tem origem não apenas em sua fé, mas em seu entendimento sobre a natureza da comunidade humana, para a qual ele traz uma sensibilidade singularmente africana. Os trechos a seguir são uma compilação de excertos de apresentações feitas por mais de três décadas em ambientes que variaram de colunas de jornais da África do Sul a discursos no exterior.

Em nosso weltanschauung africano, nossa visão de mundo, temos algo chamado ubuntu. Em xhosa, dizemos: “Umntungumtu ngabantu.” É muito difícil passar essa expressão para outras línguas, mas poderíamos traduzi-la dizendo: “Uma pessoa é uma pessoa por intermédio de outras pessoas.” Precisamos de outros seres humanos para aprendermos a ser humanos, pois ninguém vem ao mundo totalmente formado. Não saberíamos como falar, andar, pensar ou comer como seres humanos a não ser que aprendêssemos como fazer essas coisas com outros seres humanos. Para nós, o ser humano solitário é quase uma contradição.
Ubuntu é a essência do ser humano. Ele fala de como a minha humanidade é alcançada e associada à de vocês de modo insolúvel. Essa palavra diz, não como disse Descartes, “Penso, logo existo”, mas “Existo porque pertenço”. Preciso de outros seres humanos para ser humano. O ser humano completamente autossuficiente é sub-humano. Posso ser eu só porque você é completamente você. Eu existo porque nós somos, pois somos feitos para a condição de estarmos juntos, para a família. Somos feitos para a complementaridade. Somos criados para uma rede delicada de relacionamentos, de interdependência com os nossos companheiros seres humanos, com o restante da criação.
Eu tenho dons que você não tem, e você tem dons que eu não tenho. Somos diferentes para entender as necessidades uns dos outros. Ser humano é ser dependente. Ubuntu fala de atributos espirituais como generosidade, hospitalidade, compaixão, dedicação, partilha. Você pode ser rico em posses materiais, mas ainda assim não ter ubuntu. Esse conceito fala de como as pessoas são mais importantes que os objetos, os lucros, as posses materiais. Ele fala sobre o valor intrínseco das pessoas como não dependentes de coisas alheias, como condição social, raça, credo, gênero ou grandes feitos.
Na sociedade africana tradicional, ubuntu foi mais almejado do que qualquer outra coisa — mais que riqueza medida em cabeças de gado e extensões de terra. Sem essa qualidade, um homem próspero, embora possa ter sido um chefe, era considerado alguém merecedor de piedade e até desdém. Esse conceito foi visto como o que, em última análise, distingue as pessoas dos animais — a qualidade de ser humano e, assim, também humanitário. Os que tinham ubuntu eram compassivos e gentis, usavam sua força em benefício dos fracos, e não tiravam vantagem dos outros — em resumo, eles cuidavam, tratavam os outros como aquilo que eram: seres humanos. Se você carecesse de ubuntu, em certo sentido, carecia de um ingrediente indispensável do ser humano. Você podia ter tido muitos dos bens do mundo, podia ter tido posição e autoridade, mas se não tivesse ubuntu não importaria muito. Hoje, ubuntu ainda é muito admirado, buscado e cultivado. Só alguém para quem algo drástico aconteceu poderia dizer, como disse uma vez um ministro do governo sul-africano, que a morte de Steve Biko — a morte de um companheiro humano — lhe era indiferente. Aquele ministro perdera a sua humanidade ou estava a ponto de perdê-la.
Os ocidentais têm alcançado avanços espetaculares em grande medida por causa da própria iniciativa pessoal e individual. Têm produzido avanços tecnológicos extraordinários, por exemplo. Esse progresso, porém, tem chegado com um custo gigantesco. A ênfase do Ocidente no individualismo tem mostrado, com frequência, que as pessoas estão sozinhas em uma multidão, despedaçadas pelo próprio anonimato. E isso que torna possível que uma pessoa atravesse a rua enquanto outra está sendo, digamos, violentada por uma gangue: o que está de passagem simplesmente não quer se envolver demais. No Ocidente, as pessoas têm sido educadas em uma cultura do sucesso, na qual úlceras de estômago se tornam símbolos de status. Existe uma obsessão pelo sucesso, e aquilo em que você é bem-sucedido parece não importar tanto quanto ser bem-sucedido. Parece que a pior coisa que pode acontecer é fracassar. E essa cultura rejeita facilmente as pessoas como coisas gastas e descartáveis quando, por serem pobres ou estarem desempregadas, são tidas como fracassadas.
Ubuntu nos ensina que nosso valor é intrínseco a quem somos. Temos importância porque somos feitos à imagem de Deus. Ubuntu nos lembra de que pertencemos a uma única família — a família de Deus, a família humana. Na visão de mundo africana, o maior dos bens é a harmonia da comunidade. Tudo que subverta ou questione esse bem maior é, ipso facto, errado, mau. A raiva e o desejo de vingança subvertem essa coisa boa.
Desmond Tutu

Medio Tutissimus ibis.

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*Extraído da obra Deus não é cristão (TUTU, Desmond. Deus não é cristão. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2012).
**Foto de Sebastião Salgado.
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